Foi sem querer

Quem não se lembra daquele dito, por aquele engraçado comediante mexicano, idolatrado pelas crianças, como da mesma forma apreciado pelos mais longevos, de nome Chaves, se não me engano: “foi sem querer querendo”?

Tantas e tantas vezes assisti aquela comédia exibida pela Tv, cuja intenção era apenas e tão somente fazer rir, e de fato arrancava sonoras risadas em todos que tinham a ventura de ver, não só pela vez primeira, como por outras e outras vezes.

Chaves era um menino pobre. Que vivia a sua infância naquela vila em companhia de seus amigos Chiquinha e Quico. Ele criava complicações para os adultos: Seu Madruga, Seu Barriga, Professor Girafales, Dona Florinda e a bruxa do 71.

Pena que tudo que era bom e ingênuo dura pouco.

Assim como a inocência das crianças me fascina.

Ai que saudade daqueles anos perdidos na minha infância docemente vivida. Pena que os anos não voltam mais.

Vivi anos e anos naquela rua. Que daqui se avista neste dia esfumaçado e frio. Mal se vê o sol. Parece, no decorrer do dia, nessa segunda-feira que se anuncia, pode chover mais à tarde.

Em companhia da chuva prevê-se mais frio ainda. No sul já se sente enregelar. Meu querido netinho Gael passa alguns dias em visita a familia de sua mãe.

Já sinto saudades dele.

Os outros dois estão mais pertinho do meu abraço. Theo e Dom, peraltinhas como eles só, exigem de nós, avós, um preparo físico de atletas que não mais somos.

Correm, brincam, e só se aquietam defronte aos tablets, aos desenhos animados que felizmente são exibidos pela televisão.

Chaves não faz parte de seus desenhos. Eles desconhecem quem foi aquele personagem sorridente que fazia parte dos melhores momentos da minha infância. Muito menos o Seu Madruga, a dona Florinda, ou outros que faziam parte de sua inesquecível troupe.

Durante este último final de semana passei horas agradáveis junto deles. Eu e minha doce companheira, tendo ao lado uma querida enfermeira, servimos de pajens na ausência de seus pais.

Não foi fácil domesticá-los. Como gatinhos selvagens eles correm, dizem coisas que até Deus duvida, só se aquietam defronte à televisão.

Dom, o mais espertinho de todos, com seus três aninhos recém-completados, costuma me atirar impropérios. Quando o contrario elezinho costuma dizer: “cala boca vovô!”

E eu não tenho como não me calar.

Já o Theo, muitos dizem que ele se parece comigo, quando menino, é mais comportado. Menino assaz educado. Atento ao que ensina a professora, dançarino de mancheia, lourinho cabelos como os de um anjinho, que ontem e anteontem dormiu abraçadinho a sua avó.

Antes o tinha visto correr ao banheiro. Fazer xixi no vaso ele já se acostumou desde cedo.

Não me lembro de tê-lo visto em fraldas. Somente quando ainda bebê. Quando morava no andar de cima do meu apartamento.

Na despedida do sábado para o domingo, ao me acordar, bem cedo ainda, passei pelo seu quartinho. Era por volta das sete e meia.

Theo já estava de pé na cama. Ao seu lado minha esposa cochilava.

Foi quando aquela adorável criança, quase como eu era na minha infância, me disse, um tanto envergonhado: “vovô. Fiz xixi na cama. Foi sem querer.”

Aí, neste momento mágico, lembrei-me da minha infância. Teria eu dito a mesma coisa? Pena que não tenho mais a minha mãezinha querida ao meu lado.

Chaves teria dito: “foi sem querer querendo.”

Theo não merece castigo nem reprimenda. Isso já aconteceu comigo e com tantas crianças vida afora…

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