Sábia decisão

A inteligência a gente nasce com ela. Já a sabedoria vem com os anos.

Assim penso eu nos meus muitos anos.

Não que seja agraciado com inteligência e sabedoria. Mal sei lidar com números. Sou uma negação no que diz respeito a fazer certas coisas. Mas na lida com palavras me sinto a vontade.

Uma relação conjugal, para dar certo, requer tolerância, respeito e resignação. O amor um dia termina. O sexo, como dantes, perde o furor dos velhos tempos. Aquilo que restou deve ser conservado em banho maria. Não deixe a água esfriar. Nem morna nem muito quente.

Assim fui ensinado pelos meus saudosos pais. Ensinamentos que passo adiante aos que vem pela frente.

Seu Benedito, meu velho amigo e pessoa pela qual tenho sonora admiração.  Já foi jovem, bonito e muito apreciado pelas mocinhas do seu tempo. Já teve incontáveis namoradas. Uma delas marcou-lhe o coração de tamanha paixão.

O tempo rugiu como urro de um leão faminto. Ambos seguiram caminhos díspares.

Aquela bela mocinha, cuja boca abatonzada se permitia beijar sem perder o fôlego por mais de algumas horas. Casou-se, mudou-se e não deixou endereço.

Seu Benedito acabou se consorciando com a mesma namoradinha que conheceu no rela do jardim.  Foram felizes até certo ponto da encruzilhada de suas vidas deveras complicadas.

Mas quis o destino que as desavenças entre os dois chegassem às raias da loucura. Eles não se respeitavam. A rusgas eram tantas que o casamento mais parecia um ringe de luta Deus nos livre de tantas agressões.

Os filhos deixaram o ninhal vazio. O que azedou ainda mais a relação.

“Não te suporto mais!” Dizia um pro outro. “Essa casa é minha. Fui eu quem construí”. Dizia a esposa aflita. Só não partiram para a separação de corpos por puro conformismo. Seria uma decisão bastante razoável pensavam os circunstantes.

Mas o tempo continuava a passar. E a relação mais e mais azedava.

Um dia, era outono em seu começo, Seu Benedito reencontrou aquela menina, não mais tão moça, numa cidade não tão distante. Quando ambos se olharam a antiga paixão reacendeu-se como a chama de uma fogueira já em achas de lenha apagadas.

Passaram ter uma relação às escondidas. Os encontros se davam quase em todos os finais de semanas.  O antigo amor revitalizou-se como um botão de rosa quando se abre em flor.

Quatro anos se foram. Em casa era a mesma mesmice de sempre. Seu Benedito e sua esposa não se toleravam. A separação se tornava iminente.

Nada mais os unia. O casamento foi pelos ares.

Um dia, depois de um final de semana maravilhoso, Benedito resolveu tomar uma atitude.

Decidido a se separar aquele senhor fez as malas. Tomou um rumo ignorado dizendo que ia tirar uns dias de férias. A sua amada já o esperava na rodoviária. Já sabendo, de antemão, que iriam viver juntos.

O velho Benedito sonhava com vida nova junto a sua amada Dorotéia.  Junto a quem passava finais de semanas idílicos em cidades distantes.

Deixou seu lar, sua família, em busca de vida nova, embora não fosse mais tão jovem assim.

Jogou tudo pelos ares, seu patrimônio, seu carro novo, sua conta no banco, tudo que possuía, para tentar uma nova relação.  Sem pensar nas consequências de tal ato insano.

Um ano se foi, dois que lhe deixaram marcas de arrependimento.

O que pensava ser doce azedou. Aquela mulher, a quem pensava amar sobre todas as coisas acabou mostrando suas garras afiadas. O que ela queria era não ele e sim a boa vida que pensava ter ao seu lado. Ela era separada.  Não teve filhos na primeira relação.   Já o Benedito tinha tudo e pensava não ter nada.

Um dia ele voltou a sua morada. Pediu perdão a sua esposa com a qual vivia em eternas discussões.

Ele repensou a sua vida inteira.  Teria valido a pena tentar vida nova? Ao lado de outra?

A partir de então passou a viver em paz. Relevando diferenças de opiniões. Apaziguando discussões.  Estabelecendo diálogos que nunca existiram.

Pra mim voltar atrás foi uma sábia decisão.

 

 

 

 

Deixe uma resposta