Meu amigo Zé não era afeito as modernidades.
Nos seus muitos anos bem vividos não deixava dinheiro no banco.
Tinha o costume, pra mim salutar, de esconder a grana dentro do seu colchão.
Não era tanto que despertasse a cobiça de gatunos. Era uma soma modesta. Que mal alcançava dez salários mínimos.
Mas Zé era feliz e bem o sabia. Não tinha ambições maiores.
Já se aposentou há anos idos. Fez de tudo um cadinho. Mestre de obras, não sem antes ter sido pedreiro de colher inteira. Já serviu no exército de salvação. Foi pintor e encanador, pessoa de múltiplas funções.
Nunca o serviço a ele meteu medo. Tinha medo sim de não trabalhar.
Era disposto a enfrentar as tempestades ou a seca que esturricasse a terra. Não tinha tempo para dizer não a quem dele precisasse.
Zé foi casado com dona Tiana. Com quem não teve filhos. Ela o deixou há tempos idos. Era uma pequena grande mulher. Infelizmente no mês passado ela subiu aos céus. Vitima de pertinaz enfermidade. Dizem, nos arrabaldes, de tão boa que ela era, que hoje é mais um anjo a engrossar as fileiras dos anjinhos do céu.
Zé, desde então, vivia solitário naquela velha casa. Nunca mais teve outra mulher ao seu lado. Ele se bastava. Pensava, naqueles seus setenta e cinco anos bem vividos.
Dormia cedinho. Acordava antes que o galo cantasse. Tomava seu cafezinho e saia à rua. Dava uma voltinha pelas cercanias. Era modesto tanto nos gastos quanto nos ganhos. As economias poupava dentro de casa. Não tinha cofre pois não tinha tanto. O suficiente para viver com dignidade.
Numa segunda feira, quando caminhava no entorno de uma pracinha. Defronte a um banco. Não aquele banco onde se confere nádegas ao acento. E sim noutro banco que finge ser camarada com nossos caraminguados. Ao revés tira proveito deles. Deu de encontro com o gerente daquela casa bancária. Era um velho conhecido de bancos escolares. Zé logo o reconheceu e ele idem.
Pedro, como era seu nome primeiro, saudou-o cortesmente.
“Oi Zé! Tudo nos conformes? Quase não o reconheci. Você mudou bastante. A vida muda a gente. O que tem feito? Já se aposentou”?
Zé não se fez de rogado. Respondeu num sorrisão e num afetuoso abraço.
“Tá tudo bem amigo. Já me aposentei sim. Vivo sozinho aqui pertinho. Fiquei viúvo no mês passado. Perdi minha querida Sebastiana. E como ela me faz falta. Vivo pensando nela”.
Pedro, gestor daquele banco, intereressado em fazer dele cliente. Logo o convidou a entrar pela porta da frente. Foram até o andar de cima onde Pedro trabalhava.
“Amigo, quero lhe apresentar as vantagens de ser depositário de nossa agência. Vou abrir uma conta pra você. E, de presente um cheque especial. Sem pagar juros você pode usar um mês inteirinho. Nosso cartão de crédito é o melhor da praça. Todo o dinheiro que você depositar vai render juros e correção monetária. E se você precisar de empréstimo é só me falar. Você, meu amigo, deve ter algumas economias pois trabalhou por muitos anos . Onde você guarda seu dinheiro?”
Foi quando Zé da ex Tiana se lembrou do seu velho colchão de palha. Não quis dizer ao amigo gerente o paradeiro de suas economias. Que não eram grandes coisas mas davam pro gasto.
Foi quando o amigo Pedro continuou a aliciação.
“Sabe das regalias ao ser nosso cliente? Seu dinheiro cresce. E nas dificuldades pode recorrer a gente. Conhece o Píx. A partir desse mês de junho ele passa a ser automático. Não precisa pagar no dia que o débito vai ser pago automaticamente no vencimento exato. Vou abrir uma conta pra você. Depois você me traz seus documentos.”
Zé saiu todo feliz daquele banco e assentou-se a outro. Com seu cartão de crédito novinho e seu talão de cheques prontinho.
No dia seguinte depositou toda a sua grana no banco. E saiu sorridente fazendo pix a torto e direita. Aprendeu a usar o tal aplicativo no celular que desconhecia.
Ao final do mês, quando foi ver o extrato da sua conta bancária teve um susto. Ela estava negativa.
Quanto tentou reclamar ao gerente o Pedro não estava presente. Dorme com um barulho desse.
No dia seguinte Zé retirou o que sobrou do seu saldo. E voltou com ele ao velho colchão.