Sem mais, ou menos

Nem parece que todos os dias são sempre iguais.

Ontem se deu um dia chuvoso. Já hoje parece que vai dar sol.

Nada contra a chuva que cai. Desde que seja mansa, calminha, e não faça estragos como tem acontecido neste verão em sua metade.

“Sem mais ou menos”, é a expressão que brota da boca de um amigo da roça.

Seu Pedro, sempre de bom humor, quando por ele passo, assentado naquele banquinho tosco, antes da hora da janta, que para ele acontece mais cedo, já quase na hora de empoleirar na cama, pois ele dorme junto às galinhas, e acorda ao cantar do galo, quase sempre paro, apeio da caminhonetinha, aperto-lhe a mão, e jogamos um dedo de prosa das boas.

“Como vai vosmecê”? Como a pressa me consome, já adiantado da hora, respondo sempre com um cordial “vou bem, obrigado”. A nossa prosa amistosa não dura mais que quinze minutos. O suficiente para matar as saudades. Daquela pessoinha boa. Que bem poderia ser meu avô.

Para Seu Pedro não tem tempo ruim. Sem mais ou menos ele sempre me parece de bem com a vida. “E ela tem sido generosa para comigo”, diz ele. No alto dos seus muitos anos.

Quando retorno à cidade com certeza ele já esta dormindo. Sonhando com as vacas e as galinhas.

Sem mais ou menos no outro sábado nos encontraremos. Tomara que o mais prevaleça. Já que o menos não faz parte do seu vocabulário. Rico em caipirismos.

Seu Pedro adora um dedo de prosa. Assentado naquele banquinho tosco. À beira da estrada.

Sem ele não sei o que seria do menos. Já que a idade em que ele se encontra já está pra lá de mais.

Hoje é segunda-feira. Quase carnaval.

Carnaval para Seu Pedro perdeu o significado. Ele não brinca mais. Sem mais ou menos ele se satisfaz em cuidar das suas vacas. Carpir o mato denso que se forma defronte a sua morada. Ordenhar meia dúzia de ruminantes. Tratar da porcada faminta. Sem mais ou menos faz parte da sua vidinha singela. E ele sempre diz: “quer saber? Não troco esta vida por nada neste mundo. Sem mais ou menos quero ficar por aqui até meus derradeiros dias. E espero viver muitos anos ainda”.

Quando me despeço do Seu Pedro pressinto que ele diz a verdade. Pois ele sabe das coisas. Muito mais do que eu.

Há tempos apelidei-o de Seu Pedro Sem Mais ou Menos. Pois para ele o menos não existe. E ele sempre deseja muito mais.

E eu, sempre preocupado com a vida, com o trabalho que me espera, com os dias que virão, sem mais ou menos me questiono: “pra onde vou? O que vai ser de mim”?

Para o Seu Pedro não importa. O que conta para ele é ser feliz. Mesmo que as interrogações não tenham fim.

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