Lá se foi meio ano

Com que velocidade o tempo passa.

Horas avoam. Minutos se despedem com a velocidade do vento.

Ontem tinha vinte anos. Hoje, idade mais que dobrada, já entrei nos setenta.

Este ano de dois mil e vinte pouco temos a comemorar. Tem sido um ano difícil. Embora hoje, começo de julho, o dia amanheceu lindo. Céu azul, sol a despertar, quase nenhuma nuvem se mostra no alto.

A temperatura se mostra agradável. Nem frio ao exagero nem calor ao destempero.

Saí de casa usando um casaco reforçado. Agora ele descansa em uma cadeira de espaldar alto.

Defronte a mim peixinhos nadam serelepes. Eles não sentem frio. Adoram aquela piscina cristalina do meu aquário.

Parece que ontem acordamos janeiro. Fevereiro se foi bem ligeiro. Nem pude observar as águas de março. Abril passou rápido como um raio. Maio se despediu sem dizer adeus. Entrou junho. Deixou um rastro amargo em sua passagem.

A tal pandemia tem feito estragos por onde passa. Parece uma nuvem de gafanhotos famintos. Devora e ceifa vidas sem olhar a quem. Hospitais lotados. Cidades vazias. Quem perambula pelas ruas é advertido a ficar em casa. Máscaras escondem a verdadeira identidade dos passantes. O comércio ressente-se da crise. Lojas fecham as portas. Gente desalentada espera melhores dias. Filas enormes se formam à porta dos bancos.

Este ano não tem sido fácil. Gente trabalhadora fica a mercê do desemprego. Pela televisão apenas notícias ruins.  Mortes, internações, estatísticas sombrias.

Agora cedo o sol brilha forte. Tenho de manter as persianas cerradas para impedir que o sol adentre em minha sala. Meu relógio mostra exatamente sete horas da manhã. De uma quarta-feira começo do mês de julho.

Até quando vamos esperar que a tal enfermidade nos deixe?

Até quando iremos aguardar a vida seguir seu curso normal?

Lá se foi meio ano. Adentramos julho. Nem ao menos as festas juninas foram celebradas. As aglomerações são evitadas.

Neste meio de ano, passado em pratos limpos, quase nada de bom aconteceu.

Tudo começou com esta pandemia. Que se arrasta mais do que deveria.

Pena que nada podemos fazer para mudar o status quo. Se pudéssemos reviraria tudo ao revés.

Trocaria este ano por outro. Um que fosse mais auspicioso.

Um ano novinho em folha. Que recomeçaria no mesmo janeiro. Mas que fosse um mês em verdade inteiro. Fevereiro não seria o mês de carnaval. Março sem as enchentes das goiabas. Abril sem o dia da mentira. Maio não seria o mês das noivas. Junho não traria tanto frio.

Já que entramos em julho, mês de céu azul, meio ano despedindo-se do calendário, que esta endemia fatídica nos deixe em paz.

Para podermos retomar a vida. Feliz como ela deve ser.

Lá se foi meio ano. Perdido entre enganos e desenganos. Infeliz para muitos.

Que a infelicidade vá embora. Que a luz da alegria volte a brilhar em nossos lares.

Meio ano se despede. Que tudo de ruim que aconteceu seja sepultado em cova rasa.

Que entre agosto. Sorridente, feliz como sempre foi. Que tenhamos todos nós um segundo semestre alvissareiro. Sem restrições de qualquer natureza.

Que possamos viver como se tudo que passou fosse apenas um sonho ruim.

Hoje, julho em seu começo, o sol brilha forte. Lá se foi meio ano. Que leve com ele os desenganos.

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