Pra que tanta pressa? Sempre diz ele, naquela tranquilidade que o caracteriza.
Desde quando deixei de ser criança tenho pensado no quanto o tempo vai durar.
Sabia que o ano dura exatamente trezentos e sessenta e cinco dias. Quantas horas o compõem ficava em dúvida.
Em criança me indagava quanto tempo viveria. Mas, logo desviava o meu pensamento. E voltava a brincar.
Sabia que o relógio das horas girava no sentido horário. Não havia como inverter o sentido das horas. E como seria bom retroceder no tempo. Voltar atrás, de idoso voltar a ser menino.
Tudo isso fazia parte dos meus pensamentos.
Depois cresci. Não tanto como gostaria.
Uma vez adulto, já emancipado, família conquistada, novamente voltei a pensar no tempo.
Foi então que a pressa passou a me consumir. Mal tinha tempo para pensar em mim.
Era do trabalho pra casa. Filhos criados, netos nascidos, neste tempo que agora vivo parece que finalmente a vida se aquietou.
No entanto foi mais um ledo engano. De novo a correria se apossou do meu eu.
Acordo cedo. Vou direito ao consultório. Escrevo antes das oito. Nesta hora madrugada o prédio ainda está vazio. O silêncio predomina.
Antes das nove e meia parto em direção a outro trabalho. Ali atendo vários consultantes.
De volta a casa, pertinho de onde estou, almoço com a mesma pressa que me consome. Descanso alguns minutos apenas. E retorno ao consultório para a segunda etapa do dia.
Nestes tempos de pandemia a academia está fechada. E como me faz falta o exercício.
Antes, quando me era permitido, daqui saía antes das quatro da tarde. Duas horas eram o suficiente para me manter em forma.
Desde quando me entendo por gente a pressa me consome. Não tenho como dominar a ansiedade. Tenho gana de viver a cada minuto como se fosse o último.
Mas parece que a vida vai continuar. Independente do meu desejo.
Conheço um ancião, velho amigo, boníssima pessoa, o qual, num dia destes, ao passar por ele, parei por alguns minutos. Estava atrasado para um compromisso. Naquela hora deveria estar em outro emprego. O ônibus iria passar em menos de três minutos.
Mas valeram a pena aqueles instantes. O velho amigo, vendo a pressa que me consumia, me interpelou mansamente.
“Por que tanta pressa? Pare um pouquinho. Respire fundo. Eu, aos meus oitenta anos, ainda tenho todo o tempo do mundo”.
Deixei meu amigo sem a mesma sofreguidão de dantes. A partir de então tento dominar a pressa. Se não tenho todo o tempo do mundo que tal parar um cadinho? Respirar fundo. Aplacar minha ansiedade.
Se já vivi tanto, nos meus setenta anos, pra que correr tanto? Vou deixar a pressa guardada dentro de um criado mudo. Quiçá assim ela não vai buzinar aos meus ouvidos?