Maju

No dia de ontem aqui chegaram, pai, mãe, e um filhote já crescidinho, consulta marcada de véspera, a fim de que eu, especialista em rim, vias urinárias, e aparelho genital dos homens, urologista, ao revés do que apregoam, também trata de mulheres.

Por um singelo motivo: elas da mesma maneira são acometidas de doenças inerentes aos rins, bexiga, infecções que acometem a urina, os doloridos cálculos renais, e os tumores, sejam de natureza maligna ou não, que simplesmente se instalam nos órgãos supracitados. Sem pedirem licença ou aviso prévio. Que podem ser perfeitamente curados se diagnosticados precocemente, como acontece no câncer de próstata.

A mãe da criança, já bem crescidinha, depois de recomendar que fizesse aquela massagem no pênis do seu filho, tentando expor a glande, na finalidade de postergar a operação de fimose, naquela idade se deve esperar um cadinho mais, desde que seja possível, ao final da consulta, ao ser informada de que sou escritor, sobre livros  me contou um causo. Que reconto sem aumentar ou diminuir o efeito devastador naqueles infelizes que não têm o saudável costume de ler.

Disse ela: “ontem um caminhão, que transportava uma carga de livros acabou tombando na estrada. Não sei exatamente onde foi o acontecido. A carga derramada ficou espalhada pelo acostamento. Era um monte de livros recém editados. De autores variados. Depois de algumas horas de espera enfim chegou o socorro. O motorista felizmente nada sofreu. Saiu incólume da cabine do caminhão. E, o que mais me impressionou foi um pequeno detalhe. Nenhures apareceu para saquear aqueles lindos livros. Por sorte eles ficaram como novos. A espera de que outro caminhão aparecesse e os transportasse a alguma livraria numa cidade próxima.”

Infelizmente, em nosso malfadado país, ao qual Portugal, nosso descobridor, pra cá encaminhou a escória dos dejetos, gente que infelizmente era, ou pobre, não gostava de trabalhar, e, pensava que aqui, neste berço esplêndido, bastava assentar praça, num banco de alguma praça, e ficar observando o galo cantar e a galinha botar.

Como seria de bom alvitre termos sido colonizado ou pelos ingleses, até mesmo holandeses, gente letrada, séria e compenetrada, que nos iria ensinar não só o seu próprio idioma, bem escrito, como também que não se pode ver navios, à beira do mar, sem que o suor empape a sua roupa, pois, para se ter sucesso na vida, mister se faz ser educado, culto, bem estudado, e não ter o trabalho como inimigo figadal.

E por que intitular esta crônica de hoje cedo de Maju.

Ai que saudades do meu tempo de menino. Morando naquela rua que agora cedo mal se pode ver, devido à escuridão que predomina, antes do despertar do sol, antes que o céu se azulice.

A gente não sabia diferenciar as cores. Não aquelas do arco da velha. Também chamado de arco íris.

Pra gente pretinho, sacizinho, neguinho, jabuticabinha madurinha, não era desfeita nem considerado crime de racismo. Eram os neguinhos da cor de piche com quem brincávamos de bolinha de gude, de jogar finca ou bete, de pular amarelinha com as meninazinhas educadinhas, ou não, de nos jogarmos n’água fria daquela piscina hoje radicalmente modificada, onde agora nado tanto na água morna quanto na fria, e eles, os pretinhos ainda nos ajudava a catar bolinhas de tênis, quando praticava  aquele esporte elegante, junto ao meu pai, e outros amigos. E a gente não sabia se preto era devido ao excesso de melanina, ou devido ao banho em falta, ou por que aquela criança, distinta da cor de nossa pele, amiguinho do peito e do coração, mal sabíamos identificar a qualidade daquele amiguinho chegado, se pobre ou riquinho, pra gente, tanto faz como tanto fazia. O que importava não era a cor da pele. E sim a amizade que nos unia.

Na academia daquele clube, pra onde vou cair das tardes, quando saio do consultório, sem pacientes agendados, sempre me encontro, naquele mesmo horário, com as mesmas pessoas. Conto nos dedos mais ou menos pouco mais de duas dúzias. Se tanto.

Entre eles, e elas, sempre malha, ou na esteira, ao meu lado, ou pedala sem parar numa bicicleta que não sai do lugar, uma menina linda. Não tão menina como ontem lhe descobri a idade.

Seu nome não é Maju. Fui eu que a ela batizei como tal.

E que sorriso lindo a mocinha tem. Sempre em boa companhia de uma mulher de olhos verdes, cujo sobrenome é Altomare.

O cabelo dela varia conforme o dia. Ora se mostra tal e qual uma boneca de lacinhos de fita. Ora meio espetado. Ora preso num coque que não sei identificar quem fez aquilo com o cabelo da linda e espirituosa mocinha da academia do LTC.

Nunca a vi de cara emburrada.  E que condição física ela possui!  Ou corre com a velocidade de uma seriema tentando encontrar sua fêmea ou macho. Ontem ela pulava corda com o desembaraço de um artista circense. De vez em quando a sua amiga aparece. Sempre desfilando elegância ou felicidade genuína. A tal Altomare, num dia perto, já que sempre estou de foninho no ouvido, ouvindo músicas de Paula Fernandes, ou outro sertanejo qualquer, me disse: “Paulo. Amo seus textos postados no Face. Sou sua amiga. Não perco unzinho sequer”.

Pra mim foi o ápice do contentamento. Espero, que tanto a Maju, quase doutora em Português e na língua inglesa, e a Altomare, compareçam ao lançamento do meu “Leia com meus olhos”. Embora, sabido e ressabido, que no sábado próximo aniversaria a linda Maju.

Pode alguém me perguntar a razão de ter epitetado a linda bonequinha da cor de piche de Maju. Se a verdadeira Maju, antes apresentadora de um tele jornal da Globo, agora apresenta o Fantástico, ao lado de uma insossa lourinha, cujo nome me escapa, não se equipara a minha Maju, da academia do LTC.

A minha Maju tem a cor de uma jabuticabinha madurinha. Ou de um pássaro pretinho. E a simpatia que lhe extrapola a lindeza.

Chamo-a, simplesmente, Maju. Quer queiram ou não.

Ontem pedi a elazinha autorização para escrever sobre ela. E ela, não só me permitiu, como ainda me pediu cautela.

“Cuidado, meu amigo Paulo Rodarte. Não escreva inverdades sobre mim.

Espero, nem que sim, nem que não.

Um grande abraço, Maju. Que seu aniversário, no mesmo sábado do lançamento do meu livro, seja repleto de felicidade. Pois, te desejar muita saúde e muitos anos pela frente seria redundância. É evidente…

 

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