“Essa peste quase me matou”

Muitos subestimam o mal que a tal Covid faz.

Os sintomas variam.

No começo pode simular uma gripinha ou resfriadinho qualquer.

Parece que levamos uma tunda de chicote bem aplicada. O corpo dói tanto quanto um coração partido. Por vezes de inicio começamos febris. Uma coriza persistente nos impede de sorver o sabor apetitoso do ar que respiramos.

A cama é indubitavelmente o melhor lugar para passar além do dia as noites que se sucedem negras como a asa da graúna.

A tosse catarrenta continua a nos incomodar. E os espirros são incontroláveis. Um sucede o segundo e logo vem o terceiro. O quarto. E o nosso quarto nos intima à cama voltar.

Em regra, tudo isso só termina ao final de uma semana inteira. O repouso é fundamental. O isolamento total nos impede de trocarmos abraços com as pessoas que nos são caras.

Sair de casa nem para irmos à padaria do Seu Joaquim. Aquela português oriundo do Alentejo. Que pronuncia as palavras com seu sotaque inconfundível. O português castiço como um castiçal que minha avozinha tinha na sua sala de visita que eu quebrei com uma bolada que varou a janela de vidro da sala principal onde meus avós moravam. E. como castigo fui obrigado a ficar assentado a uma cadeira furada feita de palhinha. A qual não dava remendo de tão velha que era.

Ainda me lembro de quando fui em visita ao santuário de Fátima em Portugal. Que país bonito é aquele por quem fomos colonizados. Depois da visita à basílica fui ver algumas lojinhas ao derredor do santuário. A fim de trazer a minha pátria amada algum regalo a dar aos meus netinhos. Numa loja ao meio de tantas outras. O amável dono deixou sair de sua boca uma exclamação que me soou como um canto de bem te vi aos meus ouvidos: “o senhor está a dar de comer aos olhos”?

Só mesmo aos entendedores da língua portuguesa iriam perceber a lindeza desta pequena frase. Inclusive eu.

Voltando ao Seu Joaquim. O proprietário daquela casa onde se fazem pães e outros quitudes de nos fazer salivar por seu sabor inconfundível.

Durante esta mesma pandemia. Que parece ter voltado de mala e cuia. Me parece que novas cepas do tal vírus entraram neste interregno da copa do mundo de futebol. Com maior força de mais letal penetração em nosso organismo mais fragilizado pela mudança de estação. Ora chove em demasia. Ora faz-se um calorão.

A Covid 19 ronda-nos a cada volta no quarteirão. Espirros, tosse, chiados percebem-se pelas ruas e avenidas. Vidas são ceifadas em número crescente. Os prontos atendimentos se mostram lotados de pessoas portadoras desta virose maldita.

Depois de me recuperar de uma gripe mais ou menos forte fui à padaria do Seu Joaquim.

Ele não estava. Como de rotina. Encostando a sua barrigona ao balcão.

Foi uma solícita atendente quem mo atendeu. De sorriso reluzente a mostrar os dentes de um brancume perfeito.

“Onde está o Seu Joaquim? Soube que ele está em convalescença da Covid? Ele já deixou o hospital? Ou continua internado”?

A amável funcionária. Que era aparentada ao dono da casa de pães. Também portuguesa com certeza. Alentejana como seu tio. Levou-me aos fundos da loja. Onde seu tio estava deitado num quartinho dos fundos.

Acheguei-me ao seu leito. Pé ante pé para não lhe causar maior incômodo.

Seu Joaquim estava acamado. Vestindo um pijamão listado nas cores da bandeira de sua pátria.

Nossa prosa foi curta. E se resumiu nestas parcas palavras.

“E aí. Seu Joaquim? Estás melhor? Prontinho a voltar a fazer seus maravilhosos pasteis de Belém”?

No que ele me respondeu: “que nada, meu senhor. Pra você voltar a dar de comer aos seus olhos vai se passar mais de um mês. Foi isso exatamente o que o médico me recomendou cautela. Esta peste quase me matou”.

Tá vendo? Depois não digam que eu não os alertei. A tal Covid não é brincadeira não. É uma peste tal e qual a bubônica. Ou tão ou mais grave que a febre amarela pintada com as cores da camisa da Argentina. Para quem eu vaticino será a campeã do mundo de futebol.

 

 

 

 

 

 

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