Expressão sabiamente usada quando a gente se vê em apuros. Como se estivéssemos vendo a morte bem de perto. Numa curva do caminho ou numa encruzilhada da estrada. Quando levamos um susto grave depois de um acidente. Que quase nos levou a morte.
Ver a vó pela greta não deve ser entendido por ver a amada avozinha por uma fresta da janela. Ou ver a sua avó chegando de mansinho. Fazendo-lhe um carinho. Ou saboreando os deliciosos quitutes que só elazinha sabe fazer. Deixando a receita a sua mãezinha. E você a perdeu depois de tantos anos órfão do carinho de elas duas.
Quem já não viu a sua amada vozinha pela greta não levou um enorme susto. Não se viu dependurado num barranco numa estrada enlameada. Ou esteve prestes a cair num precipício. Precipitado para chegar ao seu destino.
Eu mesmo já vi a minha amada vó Belica pela greta quando chegava a casa dela. Afogueado como sempre. E não a vi, pois elazinha estava ausente. Depois de intensa procura acabei por encontrá-la meio perdida entre seus inúmeros afazeres. E ela fazia um delicioso pão de queijo prestes a sair do forno. E euzinho, apressadinho como sempre fui, acabei queimando minha língua linguaruda. Mas não me impediu de comer outros tantos.
Vi minha outra avozinha, Dona Maria mãe do meu pai. Bem antes que ela se despedia da vida. Numa tarde ensandecida quando procurava onde ela se achava. Não a encontrando no lugar devido acabei minha procura numa tarde escura. Quando vi minha avozinha rezando para que eu tivesse sucesso na minha vida futura.
Ver a nossa avó pela greta por vezes acontece.
Na madrugada de hoje aconteceu. Como sempre acordo antes das cinco. Aqui chego por volta da volta das cinco e meia. Por vezes antes.
Não mais posso ver minhas amadas avozinhas pela greta da porta. Elas hoje moram no céu. Ao lado dos meus pais. Pena que céu não tem greta. Se tivesse poderia vê-los todos pela greta das nuvens. Na azulice do céu que hoje se desenha no alto.
Nessa madrugada ensolarada vi minhas avós pela greta. Acordei em sobressalto. Embora não andasse em salto alto e sim numa crock bem macia. Quase não tive tempo de assentar-me ao trono. Embora não seja rei ali me assento sempre quando acordo. De acórdão com meu desejo iminente de exonerar minha bexiga e meus intestinos quase não tive tempo. Por sorte minha não estava de pijama. E sim pelado com a mão do lado. Vi minhas avós pela greta.
Meu preclaro amigo, sujeito sem defeitos. Fora aqueles que ele sonega. De nomezinho escrito em três letrinhas apenas- Jão, não João como deveria. De verdade deveria ser Janjão. Perdi a conta de quantas vezes ele viu a vó pela greta.
Uma delas foi quando ele se viu em dificuldades. Jão estava de maior idade. Beirava os setenta. Já passado dos entas.
Foi um dia desses que ele me procurou. Aqui mesmo na minha oficina de trabalho onde ainda trabalho e de quebra escrevo.
Jão marcou a consulta na semana ida. Passada, entendam.
“O que te apoquenta Jão?” Puxei prosa.
Ele me respondeu sem assentar-se a cadeira defronte a minha. Percebi que ele estava sem jeito de conferir suas nádegas ao assento. Com uma mão tentando segurar a vontade de urinar.
“Meu amigo doutor. Como é que faz? Tenho vontade de mijar e a urina não sai. Mijo de pinguinho em pinguinho. Um jatinho que não decola. O senhor sabe um remedinho para urinar melhor”?
Depois de um exame nas suas partes baixas. De fazer-lhe um toque sem retocar-lhe a maquiagem. Que ele não usava. Fiz-lhe o diagnóstico de hipertrofia benigna da próstata.
Foram pedidos alguns exames. Que ele deveria me trazer quando ficassem prontinhos.
Consulta terminada. Jão nem pagou a consulta de tão aperreado que estava.
O pobre coitado estava vendo a sua vó pela greta. E quase saltou pela greta da janela.