Perguntar não deveria ofender

Quantas e quantas vezes levantávamos a mãozinha irrequieta na sala de aula. Nos idos anos de antigamente. E perguntávamos a professorinha, que era chamada carinhosamente de tia.

“Fessora. Posso ir ao banheiro”?

Elazinha não só permitia como também interrompia a lição. Respondendo, com sua vozinha esganiçada: “Paulinho, não demore muito. Tenho muitas coisas a lhes ensinar.”

A nossa pergunta não ficava sem resposta. E nossa querida mestra nem se sentia ofendida caso a gente e ela fizesse perguntas capciosas.

Um dia a elazinha perguntei. Já sabendo de antemão a resposta: “dona Margarida, com quantos paus se faz um navio? Bem sabia eu, metido a sabichão, que ao revés de navio deveria ser escrito canoa”.

Dona Margarida não só me repreendeu como levei uma suspensão de uma semana inteira sem ver a cor da sala de aula. Minha turminha me aplaudiu assentada. Pois de pé iriam todos pro mesmo caminho desembestado por onde fui.

Até hoje me indago: “quem pintou o arco iris daquelas cores tão lindas? E por que tanta desigualdade nesse nosso país tão belo e rico e ao mesmo tempo tão desigual”?

O brasileiro caminha nessa intranquilidade que estamos presenciando. Mal sabemos como iremos acordar no dia seguinte. Enquanto uma minoria esmagadora tem tanto outros mal têm como se sustentar. Os desníveis sociais ofendem-nos o decoro. A pobreza impera e a riqueza ofensiva em nada nos dignifica.

O Rio de Janeiro continua lindo. Quem não se encanta com aquelas vistas maravilhosas ali não fincou os olhos. Não caminhou no calçadão admirando as ondas do mar se debruçando na areia da praia.

Agora deixo no ar uma pergunta. E peço a vocês que a respondam.

Não se ofendam se não sabem. Eu mesmo desconheço o porquê de tanta porcaria.

Estamos presenciando uma guerra na cidade dita maravilhosa. Bandidos contra mocinhos se digladiam. Entre mortos e feridos contabilizam-se mais de sessenta. Famílias ao desabrigo não sabem onde se esconder. Balas perdidas vão de encontro ao peito de inocentes. Barricadas se formam na intenção de coibir a entrada dos mocinhos na zona de conflito. O mar se tinta em vermelho sangue. Areia da praia se mistura a corpos sem vida.

Esse cenário de guerra em muito se assemelha a faixa de Gaza nessa mesma guerra que nunca termina.

O Rio de Janeiro deveria continuar lindo e faceiro. Pena que ali a discórdia prepondera. Na zona sul a riqueza prepondera. Conquanto no alto do morro favelas proliferam como ratos em busca de comida.

Eu volto a perguntar: “por que tudo isso? Não seria melhor viver em paz? Atenuar tanta desigualdade social? Por um basta nessa disputa entre gente de bem e do mal? Até quando vamos assistir a esse caos que impera no Rio de Janeiro. Gente! Fevereiro está logo ali no começo do carnaval. A carnificina vai continuar. Fim do caminho pra muita gente inocente que só deseja trabalhar e viver em paz. O carioca não merece isso. Por que e pra quê tudo isso”?

Perguntar não deveria ofender a vocês.

Não se sintam ofendidos com tamanha contravenção. Não se trata de nenhuma invenção minha. É só abrirem os olhos e fecharem as narinas à fedentina dos corpos das vitimas apodrecidas no cenário de guerra no lindo e ao mesmo triste Rio de Janeiro.  E não me iludo que a paz volte a reinar. Logo iremos presenciar novos episódios desse desacato aos bons costumes. De um lado mocinhos. Do outro bandidos prestando um desserviço a nós outros, gente de bem.

Penso que perguntar não ofende. No entanto me sinto ofendido, como brasileiro, a ver tanta coisa ruim nesse cenário que deveria ser paradisíaco apenas e tão somente. Mas, no entanto dos entre tantos. Em prantos estão os cariocas ao verem a sua cidade entregue as facções criminosas, que desafiam a policia. E conspurcam a imagem tão linda desse Rio que não consegue viver em paz.

 

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