Que presente dar ao meu maior presente?

Ainda me lembro, como se fosse hoje.

Do consórcio entre mim e minha esposa, há quarenta anos atrás, nascia aquela menina chorona e cheia de vontades.

Que nome dar a ela? Não foi minha a escolha.

A princípio pensamos em Bárbara. Nome forte. Indicativo de pessoa de que sabe o que quer e faz dos seus desejos um jeitinho todo especial de ser.

E ela cresceu. Não muito.

Gordinha nos primeiros anos. Dona de um narizinho feito a compasso. Mais lindo que um poema de Quintana.

E elazinha. Assim que se sentia dona do seu narizinho empinado, decidiu, por ela mesma, morar no Rio de Janeiro. Depois de se graduar em jornalismo na capital do nosso estado. Ainda me lembro da colação de grau. Na platéia, embevecidos e orgulhosos, a nossa Bárbara foi a primeira aluna da turma. Foi quando pensamos que naquela data festiva estava nascendo uma pequena grande jornalista que em muito breve estaria apresentando o Jornal Nacional.

No entanto o teatro era sua segunda vocação. Os palcos a sua predestinação.

A primeira peça que assistimos foi de deixar seus pais de coração apertado. Ela pulava, dançava, exibindo com maestria seus dotes de atriz que não seria mais tarde.

Mas outros atos ela encenou fora dos palcos. Exímia nas palavras creio que ela me puxou. Deveras. Seria muita pretensão minha?

Foram delas essas palavras que constam na orelha de um dos meus livros. “Parafraseando meu pai- quem sou eu, com meus versos insossos, a fazer frente ao lirismo da sua prosa”?

E ela poetava muito melhor que eu. No seu livrinho de poesias, por mim prefaciado, nomeado Indefinições. Ela assim se dizia: “Dizer adeus- como eu queria te dizer adeus. Mesmo doendo lá…bem fundo do meu ser. Que corre atrás é de você. E se vá. Perdido sem saber por onde percorrer…Tenho medo. Tudo isso me assusta. E esse vazio me consome e me corrói aos poucos…até que. Eu me transforme em pó. E o vento me leve pra longe… muito longe…onde ninguém mais se dê conta que um dia existi. Não deixei nada atrás. Apenas existi..

E as confusões em que ela se mete se exprime assim- “que pressa é essa? Que sede é essa? É dor a beça. Que saudade é essa? De você… de mim. Enfim sós.”

E ela poeta mais ainda: quando se refere ao chão.

“Tenho tudo. Reclamo de tudo. Quero tudo. E que adianta? Ter e não ser. Querer e não poder. Sonhar e cair”

A minha Bárbara pode ter caído muitas vezes mas sabe como poucos se levantar voluntariosa que sempre foi.

Ela tem em quem se escorar.

Estamos aqui filhota linda. Eu e sua mãe. Que tentou deixar a você como legado a sua confecção com seu nome escrito. Mas sinta-se a vontade para fazer o que melhor lhe aprouver.

Hoje, cinco de abril, é a data do seu cumpleanos.

Você acaba de quarentar. Mas parece uma menina que tempos atrás se despedia da gente em busca de outros sonhos. Eu, e sua mãezona não contíamos as lágrimas quando o busão a levava ao Rio de Janeiro. Cidade maravilhosa como você é.

Hoje, dia do seu aniversário, pensando no presente que gostaria de dar a você.

Já que você tem tudo. O amor de seu marido. O carinho dos meus netos. A saudade que sentimos a sua ausência. O respeito de todos aqueles que a conhecem.

Parafraseando a você. Justo eu que não sei fazer poesia. Com a minha prosa insossa.

Dir-lhe-ia. Filha minha. Meu presente maior é você.

Fica, ao final desse texto, mais uma tentativa de lhe presentear com mais um verso seu:

“Sinto saudades. Das dores que não senti. Dos sonhos que não sonhei. Dos amores que não conquistei. Das lágrimas que não derramei.”

 

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