Estamos em certa idade que não se deve deixar o hoje para o amanhã.
Mal sabemos o que vai acontecer de agora a uma hora.
No dia seguinte mais ainda. O amanhã é incerto. O futuro uma incógnita.
Então, pra quê e por que, fica aqui uma interrogação?
Adiar sine die talvez seja um desperdício de tempo. Já que o tempo escorre faminto. Como os peixinhos do meu aquário quando a eles distribuo a ração.
Façamos agora o que deve ser feito nessa hora. Os ponteiros dos relógios não se atrasam.
Um minuto atrás era seis e oito. Agorinha mesmo já se passou mais que um minuto.
Não temos tempo a perder. Não se deve perder tempo quando se passa de certa idade.
Em crianças tanto faz como tanto se desfez. Temos todo o tempo do mundo para percorrer.
Uma vez na fase adulta corremos atrás de dinheiro. E ele se torna mais e mais escasso em certa idade. Aí só nos resta viver à custa de um reles salário de nossa aposentadoria. Que mal da para sobreviver.
Não se devem postergar as tarefas que nos esperam ao acordarmos. No banheiro lavamos o rosto para espantar o resto do sono. Uma vez no trono do vaso sanitário pensamos no que vai ser o dia que recém despertou. Já na rua, bem cedinho, ainda bem que nosso serviço mora ali pertinho. E não carecemos pegar a lotação lotada para chegar ao nosso destino. Como não se deve deixar pra depois aquilo que nos espera agora. Como não se deve adiar aquele abraço em nossa amada mãezinha quando ainda a temos do nosso lado.
Estamos quase no desfecho de nossa vida. Ainda bem que não sabemos quando iremos partir. Dai a pressa que nos consome. Pra que acordar tão cedo? Pra mim a reposta seria: encurtando as noites. Abreviando o sono. Talvez teríamos mais tempo para viver os anos parcos que nos restam.
Não tenho o costume de deixar pra depois aquilo que deve ser feito agora. Agorinha mesmo comecei esse texto. Minutos depois estou terminando. Ponto um ponto final no meu escrito.
Estou vivendo na prorrogação dos descontos do segundo tempo da minha existência. Prestes a viver noutra vida. Então, mais uma vez me indago. Pra que deixar pra depois se agora estou disposto a fazer? Uma hora depois não sei o que vai ser de mim. Se terei forças suficientes para me erguer da cama. E, mesmo abengalado não puder sequer caminhar.
Não vou deixar pra depois aquele beijo que a ela soneguei. Depois de um abraço apertado. De um cochilo bem dado. De ter declarado a minha mãe como ela faz falta. Se não disse antes digo agora.
Minha querida mãezinha. Nesse dia dedicado a vocês, como não tenho o prazer de estar ao seu lado. Dedico as outras mães essa crônica de hoje bem cedinho.
Não posso deixar pra depois de reverenciar sua imagem. Que se perpetua ad eternum no meu âmago. Pra sempre digo que ainda te amo. Como você ainda estivesse presente.
Não deixaria nunca pra depois. Minha querida genitora. De te dar um abraço apertado, de uma maneira carinhosa, nesse texto de agora.