Não sei o que seria de mim

Quando a gente nasce nem de longe imaginamos o nosso futuro.

De olhinhos fechados custamos a enxergar o mundo.

A princípio estranhamos o ambiente ao derredor. Embrulhados numa manta esquisita.  Tomados nos braços de uma enfermeira. Que nos serviu de parteira, pois naquela hora madrugada o médico obstetra ainda dormia. De repente, sem poder dizer nadica de nada, fomos conhecer aquela que nos deu a vida.

A nossa mãezinha querida nos tomou nos braços. Era o primeiro filho daquele casal. E ela chorou de emoção. E euzinho chorei juntinho não por dor e sim por temor. Estava dando os primeiros passinhos, mesmo sem saber engatinhar, naquele mundão enorme. Pra mim ainda desconhecido. Bastante desgosto de ter de deixar aquele útero quentinho. Protegido das mazelas daquele mundo agora me apresentado numa sala de hospital aonde ia trabalhar no mais tardar dos anos.

Ainda bem que ainda não sabia o que seria daquela pessoinha esquisitinha. Um bebezinho feioso. Chorão e por que não dizer manhoso. Que não dizia nada por não saber falar e só chorar. Ainda me lembro quando minha mãe vaticinava: “o que vai ser do meu filhinho? Qual vai ser seu nomezinho? Pra mim ele se parece a um príncipe. Que tal dar-lhe o nome de Pedro”?

Mas eu virei Paulinho. Um garotinho esperto. Que já olhava o mundo olhando pra ele com olhos de poeta. Um poetinha que não sabia poetar. E sim mais tarde pincelar a vida dando cores a ela. Retratando o cotidiano como se tudo fosse terminar em prosa e não em versos.

Não sei que seria de mim não fosse pela intersecção amorosa dos pais que me criaram. Antes de nascer era apenas um projeto. Que se tornou um feto. Nascido cercado de muito afeto. Que cresceu um cadinho só. Mas desenvolveu dentro dele uma capacidade imensa de descrever e escrever tudo em volta. Qual seja o despertar de uma manhã cinzenta. Dar cores a ela fazendo o sol sorrir um sorriso amarelo. Retratar em cores fortes as cores do arco iris e quem sabe descobrir ao fim dele um pote de ouro.

Não sei o que seria de mim não fossem as letras e palavras. Como eu gosto delas. Como aprecio alinhá-las em frases de vez em quando longas e complicadas. Não sei que seria de minha pessoinha não fosse o ambiente que me rodeia.  Ele tanto me encanta quanto me faz dar forma as minhas crônicas. Enxergo além das entrelinhas. Dou cor e sabor às palavras.

Não sei o que seria de mim sem esse computador que me acompanha há tantos anos. Sem ele não escrevo. Sem escrever não vivo.

Ignoro o que seria de mim sem a inspiração que me tolhe o sono. As ideias nascem de madrugada. Acordo de um sono curto já com o texto ao meio. Antes das seis da manhã a crônica já está prontinha recém egressa do forno das minhas ideias.

Não sei o que seria de mim sem a medicina. Não pretendo deixá-la tão prematuramente.  Já faz uma infinidade de anos que comecei. O começo foi no ano de um mil novecentos e setenta e quatro. O final ainda desconheço.

Não sei o que seria de mim sem essas pernas que me levam a qualquer lugar. Tenho medo de um dia ter de me amuletar. Mesmo assim não irei me aquietar. Com a ajuda de alguém não irei me furtar em sair de dentro de mim. Como uma borboleta errante deixa seu casulo se metamorfoseando em alguma coisa linda que esvoaça de flor em flor.

Não sei o que seria de mim sem a família que me ampara. Sem os filhos que me dão guarida ou sem meus netos que me fazem rejuvenescer.

Não sei o que vai ser de mim de agora à uma hora. Um dia depois nem quero saber.

Hoje é quinta feira. A hora vos digo agora- seis e dezesseis.

Amanhã nem sei onde estarei. Já o ontem se foi. Cada vez mais penso que nada saberei.

Não sei o que seria de mim sem vocês. Leitores dos meus escritos. Se gostarem deles digam que apreciaram ou não. Mas não permitam que cale ou emudeça essas palavras  que tanto me fazem bem.

 

 

 

 

Deixe uma resposta