Sozinho e Deus

Nessa semana, que hoje fecha as porteiras. Passei sozinho, em companhia apenas de mim mesmo e desse computador escrevinhador.

A solidão por vezes me atazana.  Dando prosa às paredes. Amarfanhando apenas os travesseiros. Enrolado às cobertas mesmo assim não consigo me aquecer.

Falta-me o achego de minha companheira. O abraço de alguém que mora ao meu lado. Até mesmo as discussões que de vez em quando acontecem. Por motivos banais e outros nem tão complicados. Falta-me quase tudo. Inclusive o nada.

Solitário assim me senti nessa semana que hoje assinala o fim. Ainda bem que na semana seguinte minha solidão fecha os olhos. Minha esposa retorna ao meu convívio.  Essa Rosa que enfeita o meu jardim.

De vez em quando, nem sempre, a solidão toma conta de mim. Ela não me responde. Se cala quando eu falo.  Não argumenta as minhas ponderações. Nem ao menos diz nada. Já que a solidão não tem boca e nem ouvidos. Ela simplesmente emudece e nada diz. Seria a solidão uma boa companhia? Pra mim ela é. Quando desejo ficar a sós comigo mesmo.

Já meu amigo, há tanto tempo conhecido. De nomezinho descomplicado Zé. O resto nem a ele interessa. Vive numa solidão a ouvir apenas o coaxar dos sapos.

Ele mora desde criança numa rocinha vizinha a minha. Uma gleba de terras de tão pequena que, quando uma vaca deita deixa o rabo de fora.

Ele não é de encompridar conversa. Diz pouco e ouve muito. Com aqueles olhinhos enxergadores vê além das entrelinhas.

Zezinho não se sabe de que mora sozinho. Se já teve companhia há tempos se desfez delazinha.

Vive numa casa de mais anos que seus noventa. Mas ele não parece tanto. Mais ou menos lhe dou uns sessenta.

De vez em quando por lá apareço. E desapareço por muito tempo.

A última vez que o vi foi no mês passado.

Era uma sexta feira do mês de setembro. De uma secura de fazer lençol secar no varal em meia hora apenas.

Era por volta da volta do meio dia. O sol lambia a terra com sua língua amarela.

Zezinho tirava um cochilo. Afinal ele não era de ferro e merecia um descanso. Era hora do almoço. Fui eu que me convidei ao regalo.

Entramos casa adentro deixando sol esturricando do lado de fora. Fazia um calor que de nada adiantava o ventilador.

Enquanto Zé requentava a comida eu dava de olhos casa adentro. Era uma limpeza que dava gosto de olhar.  Tudo limpinho como bunda de nenê depois de um talquinho cheiroso.

Uma vez de bucho cheio proseamos um cadiquinho.

Zezinho se preparava para as tarefas da tarde.

Comecei eu a prosa pra lá de amistosa.

“E aí amigo Zezinho. Posso tratá-lo assim? Se sim diga. Se não me contradiga. Tá tudinho nos trinques? Ou alguma coisinha não vai bem? Soube que sua companheira lhe deixou a ver tatu. Agora ocê tá sozinho né? Não sente farta de companhia (farta memo. Bem mió de iscuta”?

Foi ai que o Zé começou a falar. Falava pouco e iscutava mais.

“É, nadinha de nada me preocupa. Vivo mais mió sozinho. Desde que aquela megera foi embora as coisas vão de vento em ventania. Não tenho de lhe dar dinheiro, pois não tenho. Durmo de pingadinho em tiquinho. Pois de meia em meia horinha tenho de mijar. Sei fazer comida como você bateu os oio e lambeu os beiço. Não isquento a pioienta por nadica desse mundo imundo. Sozinho me sinto muito bem mió. Agora aqui istou sozinho e Deus”.

Fui embora pensando – graças a Deus. Mas Deus me livre de viver só.

Deixe uma resposta