Não pairam dúvidas que as mudanças climáticas têm mudado o tempo nesses últimos tempos.
Faz frio de enregelar quando deveria fazer calor. Esquenta quando deveria esfriar.
Chove em excesso e em outros lugares a chuva escasseia.
Em plena primavera a prima Vera chega à casa encapotada.
Hoje a azulice do céu faz cegar os olhos. O sol brilha como um vaga lume tentando clarear a negritude de uma noite escura.
Os tempos andam mudados. O que vai ser das futuras gerações deixo a indagação no ar.
Eu mesmo nasci fora do tempo. Vim de sete meses. Apressadinho como ainda sou.
Não sei esperar. Chego antes da hora. Sofro por isso. Não apenas por excesso de sensibilidade como também por querer que todos sejam iguais a mim.
Sou um fio temporão. Não um fiozinho de luz desencapado. E sim um filhotinho nascido naqueles anos idos de um mil novecentos e quarenta e nove. No mês de dezembro, dia sete. Agora me transformei num ancião que ainda pensa ser menino. Andando de calças curtas e ideias longas por aquela rua onde passei a minha infância ao lado dos meus pais.
Tenho um amigo, da mesma idade minha. De nome meio esquisito escrito assim mesmo- Bem Dito. Que deveria ter sido batizado Benedito. Por culpa perfeitamente desculpável do dono do cartório de registro de nascimentos. Por estar de ressaca naquela hora ingrata. Acabou deixando escrito. Ao invés de Benedito – Bem Dito. Nome estranho que acabou não sendo mudado. E pegou de mau jeito o pobre coitado. Que até hoje carrega nas costas um fardo pesado de ser chamado de Bem Dito por esse nome mal escrito.
Bem Dito foi casado. De papel amassado pouco tempo durou seu primeiro casamento. Não por culpa dele e sim da sua muié. Uma pessoinha quase sem defeitos. Fora se deitar e se acasalar com qualquer sujeito.
Desse consórcio resultou um só filhotinho. Que foi criado e bem criado pelo pai Bem Dito.
O tal meninozinho nasceu fora do tempo. Deveria nascer na primavera e acabou mostrando a carinha sardentinha três meses antes.
E como chorava o molequinho. Chorava tanto que se debulhava em prantos de meia em meia horinha. O pobre Bem Dito não perdia a paciência. Trocava as fraldas da criança sem deixar aquela lambança sujinha como poleiro de galinheiro que nunquinha foi limpo.
Na hora de batizar o filho Bem Dito não sabia que nome dar. Indefinições cavoucavam-lhe as ideias. Meio amalucadas, bom deixar escrito.
Bem Dito perguntava a um e ao segundo: “que nome vou dar ao meu filho? Me ajudem a escolher”.
Uma comadre, dessas de língua afiada como fio de enxada. De nome Dona Raimunda. Não carece dizer como ela era feia de cara e boa de traseiro. Naquela horinha mesmo deu a sua opinião.
“Meu amigo Bem Dito. Bem dizendo, nessa hora do batizado do seu fio. Que nasceu antes do tempo. Prematurinho e sardentinho, chorão e cagão. Nascido nesse mês de primavera. Frio e ventoso. Que nome mais adequado dar a ele? Que tal Fio Temporão? Faz um frio danado. Fora de tempo. Nome melhor não há.”
E num é que o nome pegou?
Até hoje, naquela cidadezinha esquecida perdida nos cafundós de onde não se sabe donde. Vive o pai Bem Dito e o Fio Temporão. Que nem filho dele é. Que confusão…