Aqueles bons dias com sabor de saudade

Saudade sinto da minha infância perdida. Que o passado não traz de volta jamais.

Também daquela mocinha pudica. Que foi minha primeira namorada.  Do pé de jabuticaba por onde subia, na roça das minhas tias avós. Dos meus pais que não mais estão aqui. Por certo eles olham por mim do alto deste céu azul. Do meu cãozinho pretinho. Que um dia morreu. Com ele se foi o melhor do meu eu. Tanto sinto saudade daquela idade que se foi para sempre. Pra onde foram meus quinze anos? Meu cabelo castanho.  Minha pele lisa como pêssego maduro. Meu ar de ingenuidade. Por certo eles se foram. E não voltarão jamais.

Sinto saudade de quase tudo. Só não me atrevo a sentir saudade de quando fiquei doente. Mas tudo não passou de um tempo ruim. Foi uma doencinha pouca. Logo fiquei curado. Agora só não vejo como me curar da minha compulsão por escrever. Tomara tão logo isso não aconteça. Jamais.

A cada manhã que passa desço a rua bem cedo. Hoje, quarta feira iluminada por um sol amarelo quente, cruzei-me com uma senhora de fato bastante simpática.

Não foi hoje a primeira vez. Oxalá não seja a derradeira.

Como de rotina ela sobe a rua. Ela me disse antes que é professora de uma escola perto de onde moro. Trocamos algumas palavras. Sempre risonha e festeira ela me cumprimenta com um cordial bom dia.

Concidentemente nos cruzamos quase sempre. Quando não acontece sinto-lhe a falta.

Ela inspira coisa boa. Deve ser excelente mestra. Sua disciplina é português. Como ela mesma me afiançou outro dia.

Não sei contar nos dedos todas as vezes que nos cumprimentamos. Com o cumprimento de hoje cedo deve ser mais de cem.

O fato é que aquela senhora de repente desapareceu dos meus olhos. Meras suposições.

Amanhã não sei por onde ela andará. Quem sou eu para adivinhar o amanhã? Se por vezes me esqueço do ontem?

Caso no dia seguinte, uma quinta, ou outro dia qualquer, eu e aquela senhora não nos encontrarmos, certamente sentirei sua falta. Nunca nos frequentamos senão na rua. Sei onde ela mora. Numa casa assobradada perto do meu consultório.

Os seus bons dias são deveras apetitosos. Eles se mostram com um sorriso no rosto. Com um carinho que da gosto.

Não sei se amanhã verei aquela senhora de novo. Depois de depois de amanhã nem sequer imagino.

Caso não a veja, amanhã, noutro dia, o certo é que sentir-lhe-ei a falta.

Não apenas dela. Daquela professora tão querida pelos alunos.

A verdade é que irei sentir uma profunda saudade dos seus bons dias tão sinceros.

 

 

 

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