A ela, a reverência da minha saudade

Abril fecha os olhos melancolicamente.

Foi um mês praticamente parado. O país vive uma crise sem precedentes. Lá fora as ruas estão vazias. As lojas aguardam clientes. A crise mostra os dentes precisando de cuidados do dentista.

Tomara maio entre como a luz adentra pelas persianas do meu consultório. Espero de peito aberto que meus vaticínios se concretizem. E todos nós sejamos felizes. Pois neste mês, dedicado às mães, precisamente no dia doze, as mães, presentes ou ausentes, são lembradas pela importância que elas ocupam em nossas vidas.

E como me lembro da minha. Caso ela estivesse viva completaria, neste mês de junho, dia sete, noventa e sete anos de uma vida inteiramente dedicada à família, da qual tenho a ventura de fazer parte.

Daqui do alto vejo a casa onde ela morava. Agora, nesta hora, ela permanece de janelas fechadas.

Como tenho saudades daqueles tempos felizes. Minha saudosa mãe, professora que pouco exerceu a profissão, desde quando nasci passou a se dedicar inteiramente a nós. Seus dois filhos. Poucos anos depois, graças ao amor que ela dedicava a sua irmã, passamos a ser três. Rosinha veio a alegrar a nossa casa. Com seus olhos verdes. Com sua inocência de menina que conserva até hoje, na mesma casa onde passei meus verdes anos junto aos meus pais.

Que saudades eu sinto da minha mãe. Como ela era gentil, cuidadosa, como ela se desdobrava como mãe e dona de casa. Sua mãe, a querida vó Belica, morava um cadinho acima de onde a gente morava.  Era comum nos reunirmos todos, em volta da mesa do café, saboreando aqueles quitutes que minha avó fazia. Hoje a casa da minha avó cedeu lugar a um pequeno edifício. Que meu saudoso pai construiu, no começo daquela mesma rua. Ele recebeu o nome de Rodartino Rodarte.

Ainda me lembro de quando ia à escola. Era minha mãe que preparava a merenda. Nos primeiros anos do meu aprendizado.

Poucas vezes nos separamos. Aqui atrás, de onde escrevo, tenho uma velha fotografia de corpo inteiro, postada na janela da casa dos meus avós, quando ela vestia um traje branco, bordado de flores, por certo era véspera de sua formatura no curso normal.

Quando retornava a Lavras, uma vez adulto, jovem ainda, vindo de Belo Horizonte, com que alegria ela me recebia. Meu único irmão, cinco anos mais jovem, ainda morava aqui.

Faz quatorze anos que ela nos deixou. Dona Rute tinha medo de morrer. Era saudável até na véspera de seu passamento. Tinha verdadeira ojeriza de visitar médicos. Talvez com receio de nos deixar órfãos.

Ainda me lembro daquele dia trágico. Estava de plantão em algum hospital. Chamaram-me ao telefone. Ainda não havia os celulares. Do outro lado da linha alguém me avisou: “venha logo, sua mãe esta passando mal”. Cheguei em poucos segundos àquela casa. Encontrei minha querida mãe arfante. Faltava-lhe ar.

Fomos rápido a Santa Casa. Ela me acompanhou sem dizer nada. Subimos pelo elevador. Foi numa sala do centro cirúrgico que ela nos deixou.

Hoje se passaram quatorze anos desde quando isso aconteceu. Foi o dia mais triste da minha vida.

Doze de maio se comemora o dia das mães.

Quem ainda as tem do lado tem motivos de sobra para comemorar. Do meu lado restam as saudades. Daqueles tempos bons. Daquela senhora gentil. Que fazia tudo para sermos felizes.

Um dia ela partiu. Deixando uma lacuna enorme dentro de mim. Ainda não preenchida.

Já que não posso abraçá-la no seu dia, só me resta reverenciar a sua memória. Deixando escrito o quanto a amava. E ainda amo. Minha mãe querida.

 

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