À procura da felicidade

A partir de certa idade meu conceito sobre felicidade mudou radicalmente.

Segundo me asseverou a pesquisa, feita ainda pouco, felicidade nada mais é do que qualidade ou estado de feliz, estado de uma consciência plenamente satisfeita, satisfação, contentamento, bem estar. Boa fortuna, sorte, ainda podem ser sinônimos do que seja felicidade.

Ela se manifesta com um sorriso nos lábios. Ou um simples olhar de carinho, olhos brilhantes, em direção a uma criança, ou até mesmo a um idoso que precisa de cuidados.

No meu conceito felicidade não se mede em jardas, metros ou polegadas.

Ela tanto pode ser sorvida em pequenos goles ou levar a embriagues quando quem dela padece sente-se demasiadamente feliz.

Da mesma forma felicidade não é privilégio peculiar a qualquer idade. Ela tanto pode se manifestar depois daquele presente depositado debaixo da árvore de Natal, quando éramos crianças, meninos ou meninas, ou simplesmente devido a um afago, depois de mais idade, quando um netinho deposita um ósculo em nossa face sulcada pelos anos.

Felicidade é quase irmã de outra palavrinha simpática. Alegria quase sempre é sua companhia inseparável.

Como disse antes meu conceito de ser feliz mudou ao sabor dos anos.

Antes, jovenzinho em busca do sucesso profissional, quando aqui cheguei, depois de me tornar especialista em vias urinárias, pensava que a tal felicidade se tratasse de ganhar dinheiro, ser reconhecido pelos colegas de farda como um bom profissional, inovador, pioneiro na Urologia, da mesma forma construir um patrimônio que me desse um conforto apreciável, deixar meu nome gravado num pedestal, ter minha fotografia postada numa parede qualquer, de algum hospital onde trabalhei por anos a fio.

A partir de certa idade, nestes tempos por onde navegamos em águas revoltas, meu conceito de felicidade se transformou radicalmente.

Não fiz fortuna. Consegui aquela casa no campo onde de vez em quando recebo amigos. Tenho três netinhos lindos. Uma familia que me apoia quando deles preciso.

Se não consegui o sucesso almejado a saúde ainda a tenho guardada dentro de mim.

Aos mais de setenta anos ainda estou à procura da felicidade. Ela pode não ser completa. Faltam-me talvez pequenos detalhes.

Ainda pretendo ver meus netos formados. Seria muita pretensão? Viver alguns anos a mais?

Esta procura constante pela felicidade me acompanha ainda. Ver-nos livres desta pandemia. Libertarmo-nos da crise que nos assola. Quem sabe me contentar com aquilo que a vida me presenteou. E não foram poucos os presentes. O fato de ainda estar aqui presente, com a mesma disposição costumeira, é uma dádiva dos céus.

Bem sei que a tal felicidade não é um sentimento continuo. Ela é efêmera como o voo das borboletas. Passa tão veloz como um raio. E termina antes que a gente deseje.

Tenho por mim que a tal felicidade é conquistada na simplicidade do singelo. No sorriso de uma criança. Naquele filhote de passarinho que pela primeira vez aprende a voar.

Pra mim felicidade se resume em falar de mansinho. Como da mesma forma saber escutar.

Uma boa música nos leva a sentir felicidade. Acordar ao nascer do sol, abrir as cortinas, ouvir um passarinho cantar,  uma criança sorrir, o céu azular depois de uma chuva mansa, o frescor de uma manhã de primavera, ou um velho nos agradecer uma pequena ajuda. Quando ele precisar.

Felicidade, pra mim, é tudo isso. E poder retratar em palavras tudo que estou sentindo corrobora ainda mais na busca da felicidade. E ela não termina nunca. É o que espero. Enquanto a vida me bafejar com sua aragem sorridente. Neste quase final de janeiro. E no tempo que me resta. E por que não além do tempo?

Quem sabe reencontre a felicidade novamente quando eu partir. Encontrando, lá no alto, meus queridos pais.

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