Onde encontrar a verdade?
Pergunta que me tem subido à cabeça nos últimos tempos.
Já que tudo que a gente vê, olhos assombrados, seja numa rede social, que fosse numa rede estirada na varanda de uma casa beira mar, nos fede à mentira. A enganação. A logro.
Não só pela mídia observamos mentiras deslavadas.
Um dia, ao abrir meu Face, apareceu uma notícia sobre a qual logo pensei ser de verdade.
Ao abrir tal página meu computador emperrou de vez. Pensei ser uma das tais viroses ou mais conhecidos por vírus que podem prejudicar seriamente nossa máquina da qual não ficamos sem. Mesmo assim. Depois de alguns minutos parcos de espera a tal notícia não era nada mais que um fake.
Fake- palavrinha bastante em moda. Em consulta recente ao google descobri ser fake uma palavra emprestado à língua inglesa. Mais um anglicismo aos quais tenho verdadeira ojeriza pensando na riqueza incomensurável de nossa última flor do lácio inculta e tão judiada. Tão mal amada e mal falada assim como é escrita.
Diz o tal google que fake se trata de conteúdo enganoso. Má utilização da informação para moldar um problema ou um indivíduo. Contexto falso e mentiroso. Tido como impostor quando fontes verdadeiras são forjadas. Se é crime ou não deixo à consciência de vocês. Mas, na minha modesta opinião é. E muitos criam um perfil fake quando estamos à mercê de uma baixa autoestima ou insegurança pessoal. Visto que uma pessoa com estas características tenta conseguir criar um personagem novo e diferente de si mesmo na web. De Marina vai com as outras passa a ser Malvina vem comigo. E muitos outros exemplos de fake. Pra mim deve ser escrito em minúsculo pois quem usa fake é em verdade verdadeira uma pessoa que perde a grandeza por ser falso.
E onde se esconde a verdade? Nestes tempos onde a mentira se usa a cada dia ou a cada despontar do sol. Por falar nele agora mesmo. Nesta hora quase madrugada. Seu Zito, o porteiro do meu prédio acabou de chegar junto comigo e com as duas chaves abrimos a porta do Edifício das Clínicas. Parece até que foi tudo combinado embora não seja fake e sim verdade.
A verdade pra mim se acha onde menos se espera. Mais provável ser numa choupana humílima do que numa mansão paradisíaca à beira mar.
Ela quase nunca se mostra nas redes sociais e mais provável encontrá-la nas outras redes que balançam e embalam crianças em seus sonhos pueris.
Verdade por vezes machuca. Ela não vem açucarada como nossa mãezinha amada curava nossos galos na testa com seu beijinho doce ou uma colher ao revés saída da geladeira.
Falar sempre a verdade ou sonegar a mentira e a falsidade deveria ser de nosso costume rotineiro. Mas nem sempre assim acontece.
Mentirinhas inocentes podem ter aceite. Isso quando somos meninos ou meninas.
Dizer que cabulamos uma aula não importante por um motivo não tanto evidente. Como por exemplo dizermos aos pais ou a professora que estávamos febris ou com dor de barriga. Quando deveras era dor de cotovelo por uma razão simplesinha. Aquela menina linda. Simplesmente maravilhosa como a mulher maravilha (que filmão foi aquele o qual assisti mais de incontáveis vezes). Não tinha olhos pra mim e sim para um garoto riquinho que nadava numa piscina recheada de notas altas. Mas minhas notas na escola eram maiores que as dele.
E como amo quem sonega a mentira e não vocifera fakes. E não comete atentados contra a nossa amada língua pátria e sempre fala, para impressionar não sei a quem, ao invés de camundongo fala mouse. Ao revés de motociclista troca por motoboy. Quando gostaria de impressionar não sei a quem diz outdoor ao invés de cartaz. E pensa que smoking soa melhor que fumar (que vicio condenável). “Venha provar meu brunch. Saiba que não tenho approach. Na hora do lunch eu ando de ferryboat”.
Agorinha mesmo. Ao chegar a minha oficina de trabalho primeiro liguei a televisão. Assisti, na rede que pensa ser a dona do globo, a uma notícia que dizia que uma falsa médica foi presa por operar sem ser titulada. Não era fake. E sim de verdade. Uma verdade que bem poderia ter sido forjada como fake. Mas não era. Era a mais pura reflexão do que tem acontecido diuturnamente em nossos dias. Faça sol ou chore a chuva.
Um dia, não sei se foi ontem ou esturdia, um paciente, sem consulta marcada, aqui apareceu no despedir da tarde, quase morta. E, mesmo sendo de um plano de saúde com a carteira vencida o vi implorando a minha secretária que por favor o médico, que por acaso sou eu, atendesse-o em consulta pois seu caso era premente.
Acabei, pelo telefone, para não fechar o tempo pois era um dia claro e quente como hoje. Consenti em atendê-lo.
Seu Manoel. Era esse o seu pré nome. Os sobres não me lembro. Aqui apeou injuriado.
“Doutor! O senhor é o terceiro especialista em saúde da próstata que me consulto há bem passados três dias. O primeiro, de dedo gigante, e como doeu o tal toque, me disse que eu devia me operara da tal hiperplasia com urgência. E eu nada sinto senão um ardor e uma secreção na ponta da uretra. Seria verdade ou fake? Já o segundo, que me cobrou pela consulta um preço mais alto que este edifício, me afirmou a mesma coisa. Agora, aqui, à espera do seu veredicto, não sei qual a verdade. Se saiu do diagnóstico do primeiro. Do segundo ou de você”.
Depois de um exame meticuloso, de ouvir os seus queixumes, de levá-lo a sala de exame e fazer o exame físico completo, conclui que sua doença era cem por cento psicológica. Ele era mais um que somatizava. Mais um caso de excesso de zelo consigo mesmo.
Após a consulta, que teve a duração de quase uma hora inteira, pude ouvir da boca do Seu Manoel que, agradecido penhoradamente exclamou: “doutor! Estou à procura do verdadeiro. E encontrei a verdade aqui agora. Nesta agradável consulta pela qual não paguei um centavo. Ficou pelo meu plano de saúde vencido. Deus lhe pague.”