“Que nada”

“Hoje o céu amarelou”.

Foi esse o dito de um menino ao ir cedo à escola a sua mãe.

Deveras, quando o céu se mostra amarelo, tira rapidinho do armário as cobertas pois esse é o indício exato de que vem frio de verdade.

Junho, em nossa parte do mapa, na parte de baixo, é quando as temperaturas deveriam despencar  abaixo das medianas chegando, quanto mais ao sul, à cifras negativas. Apesar de dizerem, as vozes dos entendidos, que nosso planeta esteja sofrendo um aquecimento gradual. Em que talvez não ponha as minhas mãos no fogo por medo de elas não se queimarem.

Mas que alguma coisa de ruim ou não tanto esteja sucedendo ao nosso mundão mais e mais mudado não restam deudas. É só olhar pro alto e ver quantas enchentes enchem de água algumas regiões conquanto outras experimentam uma sequidão equivalente as areias escaldantes do deserto de Dona Sara ( não é bem assim que se deve tratar aquele deserto ao norte do continente africano, mas é assim mesmo que o “que nada” se referia a este montão de areia de pouca água fora alguns parcos oásis onde os camelos descansam e reabastecem suas corcovas nalgum  poço cheio desse líquido precioso mais caro e gostoso que uma cachacinha bem feita produzida num alambique de cana purinha).

Podem me perguntar postas as dúvidas: “quem seria o “que nada”?

Que nada é uma expressão indicativa, verificação feita inda agorinha mesmo pelo google- não há de quê, não seja por isso, obrigado eu, por nada, dispõe, ao seu serviço e por ai desfilam inúmeros sentidos todos querendo dizer a mesma ladainha.

Mas o meu “que nada” em verdade se chama Zé da Enxada Pronta.

Batizado por José Maria da Silva da Cruz.

Com todas essas letrinhas miúdas uma a frente da segunda e atrás da terceira.

Mas quem passasse, dir-se-ia perdidinho da silva por aquela estradinha poeirenta, por aquela encruzilhada, na rocinha do meu amigo Zé, e por acaso perguntasse seu nome exato, jamais algum dele conhecido iria saber quem seria.

Mas o epiteto mais em moda do amigo Zé era “que nada”.

“Que nada” por causo de quê?

Pra ele tudo era festa. Mesmo que fosse uma segunda feira braba(isso mesmo- braba- com b).

“Que nada” era pau pra toda obra. Fosse um dia de semana ou que caísse numa sexta feira quase finda a semana. Lá estava o “que nada” ao seu dispor disposto como sempre foi.

Fosse que fosse não numa fossa profunda. Também chamada de depressão. Palavra que, no entender do meu amigo “que nada” não tinha significado. Pois, se dependesse dele as paroxetinas da vida  não teriam a menor serventia. E teriam o destino certo de serem atiradas num latão de lixo. Nem ao menos os antidepressivos de segunda ou terceira linha tidos mais em voga.

Pois ele, pau pra todos os serviços, era ao mesmo tempo pronto sem  ao menos discutir o preço a ser cobrado. Nem regateava ou pechinchava.

Todos, nos arrabaldes, sem ou não ter e encher os baldes, a falta quando faltava água na sua zona rural. Por conta da estiagem prolongada. A quem recorriam? Tanto nas agruras dos seus dias após dias ou anoitecer das noites escuras. E quando os cães ladravam? Se fosse um ladrão a culpa jamais seria atirada aos ombros fortes do amigo do peito “que nada”.

Ele sim. Além de honesto e prestativo ser caridoso era de seu feitio. Nunca viram o “que nada” acabrunhado ou ensimesmado com alguma coisa que a ele apoquentava. E o carrinho de fazer milho de pipoca arrebentar? O do “que nada” era de último tipo.

Todo feito em latão niquelado. Feito com todo capricho em sua oficina de fundo de quintal. Pertin de sua cozinha sempre limpinha e com achas em brasas do seu fogão a lenha, mesmo que recém apagado, pronto e prestativo a receber vizinhos para um cafezinho não requentado. Sempre bem acompanhado de uma broa de milho e pipoquinhas recentemente saídas de seu carrinho brilhando e cheirando a amizade sincera e não regada a falsidades como aquele sorriso de lagarto de vendedor interessado apenas em sua polpudo salário prestes a ser depositado já que o final do mês se avizinhava pertin.

Se havia algum defeito a ser imposto ao “que nada” não seria aquele nomeado de sovina ou mercenário. Ele era um mão aberta. Na porta da igrejinha do povoado, pertin de sua rocinha, “que nada”, vestindo a sua melhor fatiota, um terninho azul piscina feito com sobras de tecido de seu finado avô, “que nada” cumprimentava a cada um que passasse pertin de sua simpática pessoinha, mostrando, na sua banguelice um mil e um, distribuindo, graciosamente, não apenas simpatia como benquerença.

“Ao seu dispor, de modo nenhum, não há de quê, conta comigo, prazer em lhe atender”, e outras sinonímias mais, traduzem o que gostaria de dizer com esse texto de hoje cedo.

Gentileza atrai mais gentilezas. Bom humor atrai sorrisos. Carinho no trato com semelhantes conduz-nos a subir mais um degrau em direção aos céus.

Não é “que nada!”

Se ele fosse de verdade responderia, com um sorrisão aberto, mesmo a falta de dentes, um retumbante “sinzão”.

 

 

 

 

 

 

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