Por vezes fico pensando, como seria viver uma vida ideal?
Em gozo de plena saúde? Em perfeita sintonia com o mundo que nos rodeia?
Viver em paz consigo mesmo. Sem se deixar abater com a intranquilidade que nos rodeia.
Deveríamos viver até quantos anos? Tudo vai depender de nossa vontade. Desde que a saúde não nos abandone. A clarividência ainda more dentro da gente. As nossas pernas sejam fortes o bastante para nos manter de pé. Que ainda possamos decidir e nosso desejo perdurar. Que assim seja e nosso paizinho do céu nos intime a junto a ele morar.
E, mais uma perguntinha agora deixo escrita. Em qual cidade gostaria de passar meus últimos dias?
Aqui, na minha querida Lavras, talvez seja uma delas.
Foi aqui que cresci e me fiz gente. Foi naquela rua onde passei minha infância feliz ao lado dos meus pais. Aqui é onde vivo. Ensaiei meus primeiros passos na medicina. Onde meus pacientes me ensinaram que se deve tratar não apenas as enfermidades. E sim ouvir seus queixumes e só depois emitir o diagnóstico e prescrever o tratamento.
Hoje, nessa segunda feira ensolarada. Depois de voltar ao meu rincão. Oriundo de uma cidade maravilhosa. Decantada em prosa e verso. Quem sabe seria ali que gostara de passar a outra vida. Andando lento no calçadão. Admirando as ondas se debruçando na praia. Tendo o sol ou chuva por companhia. Olhando aquelas lindas moçoilas ao meu lado sem sequer se incomodarem com meu olhar de pura admiração.
O Rio de Janeiro continua lindo por mais que tentem denegrir sua imagem de cidade maravilhosa. Violência existe por aquelas paragens. Onde não há podemos encontrar?
Aquilo sim é que é vida. O carioca convive com o Cristo Redentor de braços abertos sobre a baía da Guanabara. O pão de açúcar tem a doçura do mel. No Rio de Janeiro, qual seja em quaisqueres fevereiros, ou entrando ano adentro. Cada um vive do jeito que gosta. Sem se importar com o que dizem da sua cidade. E como eles amam seus cães. Com os quais percorrem a orla como se fossem da família. Correndo ou apenas trotando com a fidalguia característica da sua gente. Que, indiferente ao que passa em outras cidades ama o Rio. Mais que ama a qualquer lugar.
Isso sim é que é viver e conviver. Ali se vive muito bem. Não só na zona sul como no Méier e Madureira. Um dia andei Rocinha adentro. Fui guiado por um garoto muito educado vindo do nordeste. Não assisti a nenhum assalto. Fui apenas assaltado por uma vista maravilhosa de São Conrado.
Aquilo sim é um retrato colorido do que é viver bem. O carioca não vive em sobressalto e nem anda de salto alto. Exemplo de boa forma física. Também pudera? Com aquela vista maravilhosa quem não se habilita em praticar exercício acaba não perdendo a barriga.
O mar ali não está pra peixe. Como as águas doces de aqui. Está nervoso? Vai pro Rio sem precisar pescar.
Lá no Rio qualquer um se sente feliz. Basta olhar as águas do mar. E as ondas se debruçando na areia. Podem dizer que no Rio tudo é mais caro. Mas tomar banho de mar não custa nada. Quase tudo é de graça e muito engraçado. Basta saber por onde anda. E não paga pedágio.
Aquilo sim é que é vida. Trabalhar pra quê? Deixa pro dia seguinte, pois hoje tem flamengo no Maracanã.
A vida lá é pra mais de boa. Melhor, se existe, só na outra encarnação. Não que o carioca vive na enganação. Pra que enganar os outros? No Rio tem comida boa. Polvo que não fala mal do povo. Camarão frito vermelhinho como eu fiquei. Depois de tomar banho de sol.
No Rio de Janeiro mendigo vive sorrindo. Dormir ao relento, olhando pro mar, sob um céu estrelado, nem fechar os olhos carece. Tem coberta mais bonita que um céu estrelado? Se tem me digam que não vou dormir de olhos fechados.
Isso sim que deve ser chamado vida. Olhando pro mar qualquer um vira poeta. Me perdoe Vinícius ou Tom Jobim. Vivendo e morando no Rio não é vantagem nenhuma decantar os encantos de uma garota de Ipanema.
Eu gostaria de continuar vivendo aqui. Mas, de vez em quando fazendo uma visitinha ao lindo Rio de Janeiro.