Se dependesse de mim, de nós…

O dia sete de setembro passou em branco não apenas pra mim bem como a muitos iguais.

Um grande palanque armado na rua principal tumultuava o trânsito no dia de ontem, feriado nacional. Os pobres carros, muitos que iam além da avenida onde acontecia o desfile tinham de enfrentar filas enormes, irem bem devagar, até serem capaz de vencer o obstáculo de outros carros que tinham a mesma intenção de ir adiante. Quem, como eu, quase não usa carros, iam e vinham livremente, sem intromissões em nossas intenções de nos movimentarmos.

Pena que os passeios por onde andamos não nos oferecem a liberdade do voo dos urubus, em seus voos suaves, naqueles deslocamentos pelas alturas, aproveitando as correntes de vento, mesmo que o assopro dos ventos se cale frente ao azul muito azul do céu que neste mês de setembro se mostra, nada de chuva ainda se anunciar. As calçadas das nossas cidades, frente à crise que boceja sem preguiça, faz com que ambulantes usem deste mesmo espaço, pra mim apenas destinado ao caminhar sem percalços, ali montando seus negócios, como se passeios fossem áreas ideais para que neles comércios ilegais se estabeleçam, não pagam impostos, concorrendo ilegalmente com quem fica à mercê de altas taxas para assistirem, impassíveis, de mãos atadas, à bancarrota que um dia vem, e acaba com o sonho de serem bem sucedidos em seus sonhos borrados com uma mácula salobra de ver o negócio com o qual tanto sonharam ir ao fundo de um sonho descolorido. Como tem acontecido mais e mais em nosso país mal gerido por uma classe que deveria ser confiável, no entando não tem sido.

Se dependesse de mim e de outros muitos que pensam iguais a mim, os passeios de todas as cidades seriam livres, bem cuidados, da mesma largura, calçados, se possível em pedrinhas de brilhantes, como não se pode concretizar este devaneio que seja em concreto liso, sem buracos, caso fossem salpicados de pedrinhas bem alinhadas, corretamente grudadas ao que vem por baixo, para não se soltarem provocando atropelos, melhor ainda seriam.

Se dependesse de mim nosso país não assistiria impávido a tantas falcatruas com o dinheiro público. Tantas e tantas malas descobertas com tanto dinheiro de procedência duvidosa, resultado de propinas escabrosas, coisas próprias de submundo, onde a corrupção impera, as ervas daninhas proliferam, as coisas de mau alvitre sobrepujam sobre as melhores.

Se de mim dependesse, como o bebê depende da mãe assim que vem ao mundo, num curto espaço de tempo as coisas mudam, o fosso social não seria tão profundo. Não existiriam favelas ao lado de condomínios seguros, separados do entorno por muros altos, por guaritas soberbamente protegidas por câmeras espiãs, onde guardas vigilantes, verdadeiros cães de guarda, que por vezes perdem a própria vida em troca da de seus patrões, ricos, endinheirados banqueiros, celebridades de pouco cérebro, e por aí trafega a humanidade, com a maioria vivendo das sobras, migalhas deixadas ao léu, conquanto outros detêm o maior quinhão da riqueza nacional.

Se dependesse de mim o sol, que hoje mostra a carantonha sorridente, de um amarelo surpreendente, não nasceria apenas para os fortes, os bravos, os que pudessem lutar. O mesmo sol deveria ter sido feito para todos. Não apenas os que vivem no rico desfrute das praias privativas, nos ressortes paradisíacos, em hotéis onde apenas entram e se aninham os ricos, os remediados e os modestos só servem para ali trabalhar.

Se dependesse do meu pensar não haveria tanta violência nas cidades brasileiras. Tudo fruto do desnível social. Do desemprego marcante. Da miséria sem igual.

Caso dependesse do meu aceite não se encontrariam pessoas iletradas nos quatro cantos da pátria. Os livros de boa qualidade seriam oferecidos graciosamente. As bibliotecas mostrariam dentro delas os mais recentes lançamentos editoriais. Escritores novatos teriam suas obras a custo mínimo, e poderiam oferecê-las a todos a preços condizentes a falta de dividendos, a penúria por que passa a maioria esmagadora da população verde amarela.  Onde agora predomina o amarelo, já que o verde nos falta, por escassez de chuva mansa.

Se dependesse do que penso, e como penso, as coisas não iriam de ruim a pior. As próximas eleições, se diretas acontecerem, tomara nosso povo saiba em quem depositar seu voto na urna. E não mais torne a tal urna num outro depositário de gente da pior espécie, como tantos que inda hoje são exemplos exatos da cambada, da corja de ineptos que nos dirigem, não pensando na maioria, e sim nas suas contas bem floridas, cheias de notas graúdas, em contas não declaradas em paraísos fiscais, quando não enchendo malas e malas descobertas em apartamentos felizmente devassados por denúncias que vieram em hora boa.

Se por acaso dependesse da minha escolha, já que não posso, e nem desejo me mudar do país que amo, onde nasci, felizmente não foi em outro lugar, pena que tantos descalabros a gente sabe que existem, e infelizmente não consegue, por mais que tentemos, modificar, que pelo menos todos nós, brasileiros e brasileiras, brasileirinhos e suas feminhas, pugnemo-nos, insurjamo-nos, contra o status quo.

Se uma voz faz eco, imaginem vozes de quase duzentos e oito milhões de pessoas, se dependesse de mim, de nós, que ecão iria ressoar.

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