Por que não fazer o tal exame? Ou deixar fazer?

Coisas e loisas da idade.

Quando jovens, imberbes, impúberes, inocentes, castos, coisa rara nos dias de hoje, quase deixando fraldas de lado, com a urina controlada, fazer pipi na cama incomoda não apenas nossa mãezinha querida, assim como quem cuida das nossas roupas, principalmente as que cobrem leitos, os meninos, aos doze, deixam os pediatras a espera daquela ligação inoportuna vinda em plena madrugada, elezinhos não costumam, apesar de desconhecerem o próprio corpo, jovem ainda, marcar consulta com um especialista especial.

Há quem diga que ele, entre os quais me incluo, trata apenas de homens, machos são seu foco de atenção.  Lego equívoco de quem pensa assim. Nós, engajados numa especialidade eminentemente cirúrgica, uma das quais mais e mais abandona o bisturi de ponta afiada, em seu lugar máquinas notáveis substituem com mais proficiência o talho daquele instrumento perfuro cortante, através do qual os cadáveres de indigentes nos ensinavam detalhes para nós, estudantes de medicina, desconhecidos, passávamos horas e horas no aprendizado da anatomia.

No entanto bom saber que as mulheres também sofrem com as pedras dentro e fora dos rins, das infecções urinárias simples ou complicadas, com os tumores correlatos, com as queixas de urina solta, a um simples espirro ou tosse qualquer.

Certo o pensar que os homens, sejam de baixa idade, adultos quase na senioridade, velhos anciãos, sejam os príncipes consortes estudados e tratados por nossa difícil seara da medicina, não confundam a proctologia com a urologia. Elas limitam-se por ser o orifício anal por onde entra o nosso dedo indicador, se destro da mão direita, se sinistro da mão oposta. Daí a confusão estabelecida quando alguém me procura, no consultório, para se queixar de hemorroida, ou doenças afins, no entando ele deveria procurar não o uro, e sim o proctologista, especialista acostumado a usar o dedo com maestria de um maestro regente de uma orquestra diferente. A que dispensa luvas de látex de boa qualidade, para que não haja furo durante o obscuro toque sem retoque, exame por muitos temido, hoje não tanto quanto em priscas eras dinossáuricas.

Quando aqui cheguei, em minha Lavras querida, quando algum paciente, um tanto impaciente, vindo da roça, pedia a ele que entrasse naquele quartinho acanhado, e não ficasse assanhado, pois deste sétimo andar quem pode ver um doente pelado são apenas os urubus, em seus voos alados.

Muitos deles relutavam em deixar o dedo entrar por ali. Dizendo ser um lugar de saída e não de entrar qualquer dedo enxerido. Mesmo que vestido a caráter por uma fraque- luva de látex amarelo canário.

Agora, neste mês de setembro seco, quente ao seu meio, fazem exatos quarenta anos que estou a usar os dez dedos, não os cinco, dito para quem afana coisas alheias.

Antes mais sabidamente usados. Em cirurgias que duravam parte quase toda das manhãs. Estendendo-se tardes noites adentro. Por vezes madrugas frias, em reoperações extremamente envolventes. Na intenção de devolver a vida, ou a saúde, a tantos e tantos pacientes.

Voltando um cadinho atrás, nos meus verdes anos, que não voltam mais, e nem desejo que isso aconteça, como é importante ao jovem, desconhecedor do seu próprio corpo, fazer uma visitinha de compadre a um de nós. Para verificar como anda a sua fimose, se possue uma silenciosa varicocele, se uma hidrocele incomoda pouco, salvo pelo desconforto do seu volume avantajado, se por acaso um tumor de testículo que pode, caso não operado em tempo oportuno, leva-lo ao óbito prematuro. Ou uma reles DST, tantas que são hoje em dia, uma das mais prevalentes, na minha casuística imensa, o HPV, conhecido em linguagem chula por condiloma acuminado, ou jacaré de crista. Já que a gonorreia pura, daquelas amarelinhas e doídas ao urinar, quando da uretra distal emerge uma secreção da cor da gema de ovo caipira, quase virou fóssil. As uretrites brancas estão mais comuns. Não sei se um dia a coisa vai mudar.

Por isso, na minha oração à juventude, por favor, não se acanhem ao tirar a roupa. Deixem a cueca no saco de roupa suja. Se por acaso ela estiver contaminada por uma doencinha qualquer das partes baixas, separem-na da sua irmã, se a tiver.

Sabido e ressabido sobre os dissabores que a glândula prostática causa aos de maior idade. Ela incha, hipertrofia, quando se fala em doença benigna da próstata. E causa sintomas leves, que ser tornam graves quando a doença está avançada, quando o assunto escreve-se câncer na próstata. Daí a importância, nesta etapa da vida idosa, a partir dos quarenta, mesmo sem sintomas, quando existem casos de câncer de próstata na família, façam primeiro o exame de PSA. Com ele na mão procurem seu urologista, antes que o mal cresça. E fique intratável, propagando-se aos ossos da coluna, da bacia que fica nas vizinhanças, e em outros órgãos alvos, como gânglios linfáticos sorrateiros transportadores das células tumorais.

Por que não se deixar examinar assim que a idade chega? Ou, pensando melhor, com as boas ideias na cabeça, prestes a deixá-las voar.

O exame de próstata dói menos, quase nada, e não deixa na boca um sabor de quero mais. E se gostar, peça logo uma segunda ou terceira opinião. Urologistas de bom conceito, especialistas que passam anos na escola, seis no curso de graduação, mais dois na cirurgia geral, e, finalmente três, para ser forjado em bom aço na difícil arte da ciência urológica, da qual me orgulho tanto.

Um dia desse fizeram um toque retal em mim. Não digo quem fez a arte. Não importa o nome do santo, e sim o milagre que aconteceu e nada doeu. Não ano próximo farei novamente a mesma invasão da privacidade. Tomara não siga o caminho do meu pai, operado de patologia benigna em estado avançado.

Mais uma vez indago: fazer ou não o tal exame, antes por muitos desdenhado?

O caminho, não das pedras, este é: de posse do PSA, quem melhor vai saber interpretar, somos nós mesmos. Os médicos cirurgiões, notáveis conhecedores dos intrincados caminhos das pedras e da urina. Que comemoram seu dia no dia de hoje – doze de setembro.

 

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