Quem diria?

Quantas vezes pensei, no desenrolar dos anos, o que seria de mim não fossem as pessoas que me cercaram, desde quando nasci até a data de agora.

Felizmente tive um berço dourado. Nascido de pais amantíssimos. Gente trabalhadora. Sou o primeiro filho daquele casal abençoado.

Sou também o primeiro neto dos Rodartes.

A seguir vieram outros. Dos Abreus não sou o primogênito. Meu pai era um dos mais jovens.

Todos os Abreus, antecessores,  já partiram rumo ao céu. Não resta nenhum para contar a história. Apenas seus filhos. Seus netos. Seus descendentes diretos. Até quando vão restar algum de nós para continuar a saga desta família. Oriunda de Portugal. Tanto pelo lado Rodarte quanto os de Abreu.

Quem diria que chegaria até esta idade? Hoje tenho sessenta e nove anos. Ainda longe da aposentadoria. Creio que mais longe ainda da minha despedida.

Meu saudoso pai viveu mais sete anos que os meus quase setenta. Ele deixou uma lacuna enorme dentro de mim. Minha mãe a ele sobreviveu mais alguns anos. Ambos morreram em meus braços impávidos de médico.

Quem diria que eu teria, no momento presente, três netinhos lindos. São três meninos. Falta-me uma meninazinha. Quem sabe ela não vem algum dia.

Quem diria que eu, há inexatos vinte anos, me tornaria um médico escritor? Até hoje conto com dezoito livros da minha lavra. E mais de milhares de crônicas, inspiradas no cotidiano, para serem publicadas quando a coragem aparecer.

Quem diria que estaria aqui a escrever. Nesta quarta-feira de temperatura amena. No outono inverno da minha vida.

Quem diria que a inspiração tem feito parte de mim. Tomara ela não me abandone nunca.

Quem diria que a felicidade que transborda dentro de mim responde pelo nome dos meus netos que tanto amo. São três – Theo, Gael e o pequenino Dom.

Ainda bem que eles nasceram. Quem diria que os três me dariam tanta alegria ao vê-los crescerem fortes e felizes.

Quem diria que a vida tem sido pra mim um presente, uma dádiva de Deus. E eu agradeço todos os dias. Mesmo aqueles em que alegria inexiste. Felizmente são poucos. A minoria.

Quem diria que o médico que ainda mora dentro de mim consegue acordar cedo. Por pra fora o que lhe vai por dentro. Cuidar de quem precisa. Deslocar-se de um lado para o outro pelas próprias pernas. Correr distâncias quilométricas. Exercitar-se diuturnamente.

Até quando? Pergunto. E eu mesmo não sei a resposta.

Mas, neste dia, quase junho findo, nesta quarta-feira de temperatura amena, quem diria que mais um texto iria nascer?

Contando este, recontando os outros, quem diria que seriam mais dez mil?

Como me apraz escrever. Oxalá continue assim até quando morrer.

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