Enfim encontrei a tal felicidade

Quem a encontrar, favor, me dê a direção.

Se ela mora na contramão. Na mão exata. Debaixo de um árvore de ipê florida em amarelo ouro, em agosto já se pode admirá-los, seja no campo e nas cidades, ou, pensando melhor, se essa mesma felicidade, a qual não se conhece por inteiro, já que se mostra em instantes fugazes, ou nalgum lugar encantado, em alguma rocinha singela, onde gente simplesinha que mal sabe falar o português, com aquele sotaque roceiro, nos recebe em casa sem anúncio prévio, e não deixa uma vassoura atrás da  porta a fim de afastar visitas, é assim que me entra adentro  do peito um sentimento inconfundível. Como aquilo que senti no meu casamento. Ao beijar a mulher amada. E tê-la em meus braços pela undécima vez, embora o amor já tenha acontecido entre nós dois.

De fato, a tal felicidade, muitos a confundem com alegria, sua parenta chegada, felicidade não compactua com a tristeza muito menos com angústia e nostalgia, pois, quem sente a felicidade verdadeira sorri mesmo nas adversidades. Faz o papel de bobo, pois a pessoa não se desgruda das amizades, sejam verdadeiras ou efêmeras como as flores do ipê, quem a encontrar, repito.

Não se olvide jamais de me dar seu endereço.

Vou pedir ao carteiro, andejo como eu, que, por favor, por obséquio, deixe uma cartinha escrita com alegria, na minha caixa de correspondência, que as contas vencidas, boletos, sejam banidos pelo menos neste final de semana, neste domingo lindo deste sete de agosto.

Aquele que encontrar a felicidade, mais um pedido amigo. Não a tranque a sete chaves. Nem jogue a chave do cadeado fora.

Distribua-a entre os amigos. Não deixe de fora os desafetos. Procure espalhar felicidade no seu cotidiano, mesmo que ele seja cruel. Deixe a crueldade de fora das suas relações. Não se rodeie de pessoas negativas ou ácidas. Adocique a sua vida.

Foi nesta manhã risonha deste domingo ensolarado, antes de receber dois de meus netinhos em meu apartamento, fui, acompanhado do amigo Marcelo, a um haras onde vive um grande adestrador de cavalos, o Edinho, num sitiozinho, que deveria ser chamado de morada da felicidade, onde existem diversas baias, onde cavalos, éguas, de pura marcha picada, ou andejas como eu, onde ele amansa cavalos antes bravios, e ele, com sua candura, os transforma da água pro vinho em verdadeiras doçuras, com o sabor incomparável de uma sodinha de abacaxi bem gelada, foi lá, naquele lugar pertinho da fazendinha do santo padre Israel, onde, há tempos pretéritos fui correndo, devagar, e o encontrei quase moribundo, com que tristeza dali saí, ao vê-lo naquele estado.

Padre Israel partiu. Deixando como legado a bondade, o desprendimento, naquela rocinha que ainda leva o seu nome.

Voltando ao haras do Edinho, onde ele mora com a esposa, e ambos se revezam nas múltiplas atividades, sem descanso, depois de experimentar cavalgar um cavalo inteiro, após algumas lições de equitação, eu não sou pião, sou médico escrevinhador, acabei elegendo uma égua, ainda potra, a ser dona das minhas pernas, e por ela me apaixonei. Deveras.

Dei algumas voltas na pista. Sob olhares de inveja do amigo Marcelo, aposentado da UFLA, sem ainda ter atingido a idade correta.

Foi então, na contramão da tristeza, assim que o dono da égua, o simpático Edinho, bom de negocinho, me disse: “doutor Paulo. O nome desta égua que o senhor agradou é Alegria”.

Ao montá-la, depois de dar umas voltas na pista, como me senti feliz. Tenho tudo documentado no meu celular. Mais uma vez sob os olhares de cobiça do amigo da onça Marcelo.

Foi num átimo de segundos que rebatizei a égua Alegria por Felicidade.

Agora sim. Descobri o endereço verdadeiro da felicidade.

É ali mesmo. Pertinho da fazendinha do Padre Israel. No pequeno haras do amável Edinho.

 

 

 

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