Não se fala noutra coisa senão nisso.
Pela televisão, nesse dezenove de setembro, varando a madrugada, até o fechar dos olhos deste e doutros dias, o mundo inteiro assiste, de perto ou de longe, até nos cafundós de Judas se comenta, o sepultamento da rainha do Reino Unido. Não tanto unido. Pois alguns daqueles países pensam em separar-se da coroa. Alguns descontentes dessa forma de governo proclamam e reclamam. Já que suas preferências são outras. Preferem à monarquia o presidencialismo. Já que a maior parte dos indivíduos convive em quase plena democracia. Onde o presidente, uma vez eleito, seu mandato dura quatro anos. E se faz um bom mandato pode ser reeleito. Em quem irei votar já está dito. Faltam apenas alguns dias para que a urna abra a boca. E eu escancaro meu voto. Neste mesmo falastrão no qual a rede globo fala tão mal. Por que razão? Advinha!
Agorinha mesmo, ao chegar ao consultório, antes, bem antes de o porteiro Renildo chegar, a espera de o meu computador principal acordar, liguei a TV. O féretro da rainha Elizabeth Segunda do Reino Unido era o assunto primeiro em todas as mídias escritas e televisivas. Londres chorava e acompanhava o caixão até a sua derradeira morada o palácio de Buckingham. De onde a rainha reinava, mas quem comandava o batalhão não era ela. Mera figura decorativa que enfeitava aquele reino banhado pelo rio Sena e cercado como uma ilha pelo oceano.
Hoje, dezenove de setembro, quase primavera, nesta manhã de céu azul e sol amarelo ouro, os súditos, a realeza se despedem de sua monarca. A ela sucede o novo rei. Um tal de Charles, que trocou a linda princesa Diana, a princesa de Gales, pela feiosa Camilla Parker Bowles. Que não só não é apreciada pelos ingleses ainda é mais feia que urubu perneta.
Já o Sô Mané, madrugão e resmungão, naquela mesma hora, antes das quatro da manhã já se punha de pé. Retirava a dentadura novinha dentro de um copo com água pela metade. Já que a outra ele bebeu, meio de ressaca, que cachaçada ele tomou a noite passada. Mal conseguia fazer um quatro. Havia perdido a hora de ordenhar as suas vacas. E o caminhão leiteiro passaria em meia horinha apenas. Ele desconjurou a pinga ruim, por muitos chamada de canjibrina. E foi capengando até o curral. Pra lá de trêbado. Com os oio anuviado. Meio que zaroio.
Assentado àquele banquinho tosco, quase um tripé, Sô Mané, mal acompanhado da dona Eunice. Muié mais feia que jacaré trocando o couro. E oia que ele ainda dava no couro. Dizia ele todo garboso. Que nunca foi preciso usar o remedinho azulinho. Mas o que mais apreciava era capim novo. Nada como uma prenda nova em foia. Uma muiezinha de perninhas lisinhas. Sem varizes ou furunculose. Cinturinha como uma viola em cacos.
Naquela manhã radiante, cedinho, o nosso homem da roça, de mãos cascorentas e tez tostada pelo sol, com seu radinho falante, no seu ouvido, quase mouco. Acontece que sua dentadura acabou caindo dentro do balde de leite. E foi ao fundo. Penso eu, que quando o leite for derramado no lacticínio, o queijeiro vai levar um susto danado. Encontrar dentro de um queijo fresco uma peça como aquela não sei o que vai acontecer. Ou o consumidor pede a troca ou a devolução. Ou então vai direto fazer a reclamação ao PROCON. Não sei o resultado de tal injúria. Eu mesmo já reclamei de um tênis comprado pela internet. Depois de enfrentar uma fila enorme, e até agora nada ocorreu. Foi um duro golpe em meu bolso furado. Com o dinheirinho minguado que anda sucedendo em todo território nacional.
Já era por volta da volta de quase meio dia. Já passava da hora de esquentar a marmita no fogão a lenha que não acendia. Chovera a noite anterior. E a lenha molhou. Não pegava fogo.
E, durante aquela folguinha, depois da sonequinha curtinha, pelo mesmo radinho de pilha, felizmente era da marca Duracel. Que dura mais do que rapadura seca. Sô Mané acabou por escutar o noticiário sobre o enterro da rainha. Imaginou aquele cortejo fúnebre. O ataúde, de maior valia que centenas de vacas paridas caminhava lentamente pelas ruas de Londres. Rumo ao palácio de Buckingham. O sepultamento iria ocorrer no dia de hoje.
Foi quando dei de cara com o amigo veio Mané.
E a ele inquiri: “vosmecê sabe de quem é o enterro? Sabe quem morreu”?
E ele me arrespondeu, marcriado: “sei não. O meu radinho diz que é de uma tal coroa. Bem veinha.”
É. Sô Mané tá cheinho de razão. A rainha Elizabeth Segunda era uma coroa bem veinha. Mas uma coroa venerada pelo seu povo. Adeus rainha…