A imagem do desalento em contraste com a alegria por estar viva

Tem gente que nos arrasta pra baixo.

Já outros são a imagem irretocável que nos conduz adiante. Nos anima. Nos incentiva a continuar a viver. Até mesmo nas condições mais desanimadoras.

Amo cercar-me de otimistas. Ter como amigos pessoas que sorriem mesmo na adversidade.

Mesmo que procure me afastar dos negativistas lá vem eles com os mesmos queixumes: “ah, se eu pudesse fechar os olhos. E não acordar no dia seguinte. A tal enxaqueca voltou mais forte ainda. E de nada adiantou a receita do undécimo médico que visitei dias atrás”.

Desgraça, malquerença, atraem coisas ruins. Mau humor não se adequa àqueles que desejam se dar bem. Existem pessoas pra mim tidas como machados. Que tentam cercear a nossa liberdade. Com suas opiniões sempre díspares das minhas. Mesmo que a razão esteja do meu lado. Não restam dúvidas que o bom humor contagia. Que a tristeza gera infelicidade. Que tal sorrir? Mesmo sem dentes perfeitos escancara a boca. Mesmo sem a dentição perfeita. Faltando-lhe os dentes de cima. Mostra a todo mundo a cor vermelha de sua gengiva. Ou, se por acaso dentro de um copo d’água existir uma dentadura semi nova mantenha-a firme dentro da boca. E se por acaso ela escapulir segure-a com corega.

Gentileza atrai cordialidade. Estender a mão, mesmo que outrem não a peça, que seja para atravessar uma rua movimentada. Seja a alguém como dificuldade de locomoção. Ou a outro com perda da visão; trata-se de um gesto de carinho. Ao revés de afagar um cãozinho abandonado, que vagueia pelas ruas por ter sido abandonado, acarinhe uma criança de rua. E lhe ofereça amor. Que lhe foi negado no próprio lar desestruturado.

A cada dia, a cada manhã, a cada noite que escurece, nestes tempos difíceis por que temos passado, a gente percebe, sem andar muito, nas caras dos passantes, das pessoas que foram despedidas, dos pais de familia que, por uma infelicidade não têm como dar o devido sustento aos filhos e dependentes, a imagem do desalento salta-nos aos olhos.

Tem se tornado bastante corriqueiro dar de cara, ao caminharmos pelas ruas centrais, ou aquelas das periferias, mendigos de mãos estendidas, gente jovem, muitos oriundos de países limítrofes, fazendo malabares nos semáforos, a fim de ganhar alguns míseros trocados.

Desconfie, por vezes, que estes mesmos jovens infelizes, usando narizes de palhaços, ou com a cara pintada, usam o dinheiro arrecado para fins impróprios. Eles podem ser usuários de drogas. Em suas drogas de vida afastados de Deus Pai e da própria familia de onde nasceram.

Mesmo assim abra não somente as suas mãos como deixe entrar compaixão em seus corações. Não atire pedras sem saber que um dia a vidraça pode ser você mesmo.

Um dia destes qualquer, aqui entrou, na minha oficina de trabalho, uma senhora, perto de completar noventa anos, minha amiga de velha data.

Dona Bárbara, de mesmo nome de minha pequena jornalista, mãe de dois dos meus três netinhos lindos, antes presença constante numa unidade de saúde onde trabalhei, agora me jubilei do serviço público, da medicina jamais, é um exemplo vivo de como envelhecer sem mostrar sinais de envelhecimento.

Ela anda como noticia ruim. Leitora assídua seja de bula de remédios ou de grossos compêndios de literatura de ótimos ou medianos escritores.

Quando ela me visitava no posto da Chacrinha, sempre caminhando, como eu me acostumava, a sua intenção era me pedir receitas de alguns fármacos para um filho com necessidades especiais. E sempre ele me perguntava: “o senhor já lançou algum livro novo? Quando o fizer me avisa”. E ela sempre adquiria todos de minha lavra. Na semana passada de novo aconteceu.

Dona Bárbara não só é uma leitora assídua como caminhante obsessiva. Nos seus oitenta e sete anos ela me disse ser tataravó. Viúva de companheiro morto ela me mostrou a fotografia do seu amor que não passou até na presente data.

Ela não só exala simpatia por todos os poros como acredito não escorrer sangue por suas veias ou artérias. E sim simpatia e alegria genuinamente brasileiras.

Ela, de vez em quando, raramente, responde aos meus zaps quando a ela envio os meus textos.

Hoje, neste vinte de setembro, ao abrir as minhas mensagens deparei-me como uma de dona Bárbara. Ela assim dizia: “belíssimas obras. Parabéns! Fico muito feliz por estar compartilhando comigo seu talento e sabedoria. Muito obrigada. Que Deus te abençoe e te inspire cada vez mais”!

Andando pelas ruas de nossa cidade, nestes tempos bicudos, onde os preços sobem na contramão dos rendimentos, incontáveis vezes me deparo, na face de outrem, com a imagem do desalento.

E, quando vejo a minha querida amiga e leitora dona Bárbara um chumaço de alegria adentra-me alma dentro.

Ela pra mim é um exemplo de que se deve, sempre, sorrir, mesmo defronte às maiores adversidades.

 

 

 

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