Do desalento ao encantamento

Dois sentimentos díspares.

O primeiro enseja quase tristeza. Já o que segue exemplifica alegria. Contentamento.

E eu costumo sentir ambos dependendo do momento.

Quando a chuva cai. Mansinha. Durante as noites dormidas na minha rocinha que está prestes a se tornar um paraíso terreno. Já que o outro, mais acima. Ainda desconhecido. Não pairam dúvidas que seja tal e qual o meu e da minha esposa amada. Raramente desfrutado por minha familia. Que em raras ocasiões para lá acorrem. E nunca passaram uma noite sequer em minha companhia. Que seja da minha amada Rosa. Já que eles todos não gostam tanto de vacas ou equinos. E não saboreiam o prazer inenarrável de passar a noite atrás de vagalumes ou sapos atentos ao pouso de besouros ou outros insetos noctívagos quaisqueres.

Encanto-me simplesmente com a singeleza do singelo. Com a prosa boa dos meus vizinhos de cerca. Que não cursaram nenhuma universidade. No entanto sabem como ninguém quando a vaca dá cio. E quando permite a monta do felizardo touro que percebe. Pelo odor. A hora exata de fazer amor com a sua vaca preferida. A escolha dentre tantas novilhotas lindas. Ou vacas paridas mais de uma vez e tanto.

Mais uma vez o encantamento brota em mim a hora de tirar leite. Não usando a tal ordenha. E sim a dedos desenluvados. E como esta tarefa grata apenas se torna capaz nas mãos de retireiros experimentados pela vida dura no campo. E quando as vacas. Em comitiva. Se despedem de suas crias berrando de saudade dos bezerrinhos de barriga cheia. E sempre famintos depois de sugarem todo o resto de leite das tetas de suas mãos ou tias.

Mas desencanta-me o furor de torcedores embandeirados nos campos de futebol. Fazendo arruaça. Baderneiros de plantão. Naqueles quebra paus assim que o juiz apita o final da partida. Quando seu time do coração é vencido. E atribuem a derrota não aos jogadores. E sim ao infeliz julgador. Ou a um dos seus auxiliares de bandeiras que correm lépidos a beira dos gramados.

Ontem a seleção brasileira foi eliminada da copa do mundo de futebol. Já devem ter voltado pra casa. Aqueles jogadores milionários que ganham aquilo que qualquer um de nós não percebemos nem durante a nossa vida inteira. Como trabalhadores assalariados. Ou até mesmo profissionais de saúde ou mestres na área de educação.

Assisti a partida do começo ao seu desfecho. Acompanhei a luta renhida tanto dos croatas como de nossos atletas em verde e amarelo.

Não perdi um só lance. O gol de Neymar me pareceu ser o inicio de uma goleada.

Ledo engano. Veio o segundo tempo. E o empate da Croácia foi uma pá de cal nos meus encantos.

Na prorrogação pressentia mais uma vitória da seleção canarinho.

Mais um desencantamento.

Nos pênaltis eles foram vencedores. Alea Jacta Est.

Fomos eliminados do certame.  Não sei qual o futuro de nosso amado Brasil assim que a nossa gente se der pela coisa.

Já que somos tidos como a pátria das chuteiras. Conforme disse Nelson Rodrigues.

Confesso que a minha torcida de pouco valeu.

Mas não torci pelos jogadores que ganham uma fortuna. E sim pelo nosso desencantado país.

Comecei a assistir a copa cheio de encanto. Meu coração pulava a cada gol.

Já agora. Que fomos derrotados. Por um time guerreiro. Sem tantos craques de infinito valor comercial. Como os nossos Neymares ou similares.

Espero que. A partir da derrota. O meu encanto não vai cessar. Pois espero. A partir da volta pra casa da nossa seleção. Outros valores irão predominar.

Oxalá não nos considerem mais a pátria das chuteiras. E sim um país que em se plantando tudo dá. Menos o toma lá e dá cá.

Meu desalento. Pela derrota. Acabou-se se transformando em encantamento.

Nem só de futebol se vive por aqui.

 

 

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