A vida entremeia-se de escolhas acertadas. Equivocadas e certas. Mas muitas vezes não cabe a nós escolher acertadamente. Pois quem diz que a gente sabe identificar entre o certo e o errado. Pois desde meninos. Quando nos enveredamos por um caminho só depois de caminharmos sem destino nos vem à lembrança de que era por ali não por cá.
E a gente retrocede. Mudamos os nossos passos inseguros e titubeantes. E, naquele instante aprendemos que errar faz parte da natureza humana. Mas persistir no logro é sinal de asnice.
E quantas e incontáveis vezes escolhi a pessoa errada para comigo dividir não só o fardo pesado dos anos. Aquela pessoa que deveria dormir ao nosso lado. Que seja do lado direito da cama. Ou amarfanhando o mesmo travesseiro. Disputando o mesmo cobertor nos dias frios. Revirando os lençóis quando se vê descoberta quando a temperatura sobe a mais de alguns graus. E atura o nosso despertar precoce. O nosso mau humor de quase sempre. Soberbamente nos dias cinzentos. Quando o sol não se arreganha totalmente. Quando nuvens se acinzentam indicando que o mesmo sol vai dar lugar a uma chuva mansa.
Há quase quarenta e cinco anos creio ter feito a escolha exata. Fora os dez de namoro.
Foi no rela do jardim que nossos passos se cruzaram. Já a conhecia dantes. Era quase uma menina voluntariosa Aquelazinha. Moreninha. Quase da minha altura pequenininha. Dotada de olhos castanhos. Pernas da cor de um jambo maduro. Cabelos ainda não tintos para que os fios brancos não aparecessem. Segundo me disseram sua mãe e seu adorado pai. Ela ainda é a mais formosa entre suas irmãs. Em número de quatro. Mais um varão bendito é o fruto entre as mulheres.
Nosso segundo encontro se deu na piscina do Ltc. Onde eu, ainda jovem, num mergulho naquelas águas límpidas. Ao passar por debaixo de suas pernas quase me afogava por tamanha beleza.
E fomos caminhando idade afora. Num namorico entremeado de ciúmes e desentendimentos. Até quando, de volta da Espanha ela me deu uma fechada com seu Dodge Dart rabo de peixe. Lindo como ela sempre foi e ainda permanece. E não tive como não pedir a ela em casamento.
Numa casinha pequenina, no bairro Centenário, herança do meu saudoso pai, ali passamos anos e anos. Até o nascimento do meu primeiro rebento Stenio.
Um par de anos mais tarde outra casa edifiquei. Era uma casona enorme. De mais de setecentos metros quadrados. Onde minha pequena jornalista deu seus primeiros passinhos.
Era ali que viveu meu fujão Willie. Um Yorkshire que viralatou de vez pra sempre. E outros canzarrões que a morte me deixou órfão de suas amizades.
E ela, a minha Rosemirian, mais conhecida por nome de flor, dona não só do meu coração como da mesma maneira do meu cartão de crédito e do meu talão de cheques. Cuja última palavra sempre foi a dela. Embora eu tente impor a elazinha as minhas condições. Sempre retrocedo. E a minha Rosa estufa as veias do pescoço e faz valer as suas ordens. E eu as cumpro sem ao menos suspirar.
Há quase uma eternidade estamos juntos. Para o que der ou voar.
E hoje, onze do mês de dezembro. Esse mês que ambos assopramos velinhas que preenchem qualquer bolo. Eu no dia sete. Ela quatro dias depois.
A minha Rosa. Ainda cheia de espinhos e com a doçura de um favo de mel. Completa sete décadas de vida intensa dedicada à familia que eu e ela fizemos.
Não somente no dia de hoje a minha Rosa, ou Rosemirian. Como preferirem. Ninguém mais do que ela. Ou a minha saudosa mãe Rute. Merecem o melhor do meu eu.
Não vou lhe dar qualquer presente. Não sei se lhe basta a minha presença ao seu lado.
O meu carinho. Um beijo melhor que aquele que o beija flor oferece ao oscular uma rosa qualquer.
Meus sinceros respeitos e minha eterna gratidão. Por tudo que tens feito por mim e nossa amada família. Nossos netinhos. Theo, Dom e Gael. Receba deles e meu. Não apenas um afetuoso abraço no seu coração. Assim como a minha imorredoura paixão.