A primeira vez que me mostro aos olhos de um médico

Toninho, nascido de parto antecipado, baixo peso, embora tenha tido ao nascer um apgar em torno de dez, cresceu, fez-se estudante numa escola pública, sem deixar seu órgão genital a descoberto, por temer que os demais varõezinhos fizessem bullying com ele.

O rapazinho exibia, a olhos descobertos, peso acima do que a prudência e a saúde exigiam. Excesso de gordura fofa não passava despercebido em sua bela figura. A genética facilmente explicava tal efeméride.

O pai sempre foi obeso. Quase mórbido. Por esse motivo, aos vinte anos, tão somente, ao fazer exame admissional numa firma exigente descobriu-se diabético tipo dois. A mãe não fugia a regra da obesidade. Embora fosse bastante charmosa aos vinte. Vindo a se transformar numa orca pesada aos trintanos apenas.

Toninho, um lindo gordinho, já fugindo da balança como a corça faz com a leoa faminta, apenas vestia cor escura. Tentando ludibriar os olhos de quem o olhasse vestido. Mas sem roupa sua obesa barriguinha encobria-lhe o órgão genital, o qual parecia ter menos centímetros que o que realmente tinha. Com fita métrica um dia um urologista mediu-lhe o piupiuzinho e garantiu que aquilo era em verdade do tamanho da média nacional.

Toninho custou a crer na afirmação do excelente profissional. Um decano da urologia, que também tinha o costume de escrever. O site do urologista era: www.paulorodarte.com.

Depois de meia hora de consulta, ao verem esgotados todos os argumentos para tentar convencer ao Toninho criança que o tamanho do seu pênis era normal, não restou ao esculápio especialista senão tirar o próprio pinto pra fora. A partir de aí quem entrou em confusão foi, se não outro, o urologista exibicionista.

Nem assim o complexado Toninho se satisfez. Mas dane-se.

A urologia é uma especialidade complexa. Como complexas são as pessoas. Embora a boa gente da roça não seja tanto assim. Elas são singelas como as flores do ipê. Ou como as flores do campo, que no chão areento nascem por um descuido do passarinho, que ali deitou a sementinha, sem saber o que iria acontecer.

Minha especialidade trata das doenças do aparelho urinário e reprodutor do sexo antes tido forte. Apesar de hodiernamente sermos a parte fraca do casal, quando o casal é formado de homem acompanhado por uma mulher. Cada vez mais raro este fato.

Ela examina a próstata, depois do exame de sangue ser passado a limpo, o tal PSA, pelo canal anal, conhecido por reto. Embora ele seja torto até o andar de cima. Indo profundamente ao estômago e esôfago adentro. Não confundam hemorroida com a próstata. Aquela glândula marota tem serventia quando jovem. E passa a ser um estropício quando de maior idade, incomodando o esguicho da urina, que pode, um dia, quando a tal próstata cresce em demasia, causar incômodos tamanhos como a urina sanguinolenta, infecções doloridas até a retenção total, sendo de urgência premente a sondagem da uretra entupida.

Não apenas de alegrias e tristeza vive a raça humana.  As mulheres, meninas moças, donzelas puras, são mais fáceis de serem convencidas a procurar médicos que cuidam delas. Elas, por um singelo desvio em seu período menstrual, por uma coceirinha banal em seu antro de prazer, logo lotam consultórios dos ginecologistas. Já os machos, penso que os não tanto nos procuram muito mais, relutam na primeira vez que procuram os urologistas. E como eles não sabem da importância de por a limpo como anda a sua fimose, se seus testículos desceram de paraquedas à bolsa escrotal, se existe algum amontoado de veias anormais no cordão espermático, doença varicosa, chamada de varicocele, facinha de tratar, no caso se existe na bolsa escrotal um acúmulo de líquido que assusta a primeira vista, outra patologia de fácil tratamento, conhecida por hidrocele, que pode ser confundida com uma hérnia inguino escrotal, e outros aumentos indolores, que bem podem ser tumores malignos do testículo.

As doenças sexualmente transmissíveis são outro capítulo da competência do urologista. Que pode acometer tanto o Toninho, o menininho que tomei para Cristo, o mesmo garotinho obeso que pensava ter o pintinho pequeno, e era pura gordura cobrindo-lhe o órgão ainda não usado apenas para urinar o coitado, personagem central do meu texto, quando os Migueizinhos da minha juventude perdida, que os anos não trazem mais. Daí a importância da primeira visita ao urologista, depois que o pediatra aposentou o menino, com ódio da mãe dele, que não o deixava dormir por uma simples dor de barriga, a partir de então tomou raiva do telefone, e deixou de vez as crianças crescidas para outra especialidade, nelas incluo a minha.

Ontem mesmo me encontrei com o Toninho. Foi ele quem tomou a iniciativa de vir ter a mim. Foi aqui mesmo. No meu consultório onde idem mora feliz o escritor compulsivo.

Foi um exame de rotina. Não que ele tivesse qualquer queixume qualquer. Não havia secreção uretral. Muito menos sua preocupação com pênis pequeno era a razão que o trouxe a mim. Simplesmente Toninho, sabichão que se tornou, descobriu a importância da primeira consulta com o urologista. Dito e feito.  Não doeu nadinha examinar-lhe a glande encapada. Nem mesmo comprovar que ambos os testículos estavam em sua morada definitiva. Não era hora do exame da próstata. Era cedo ainda, só a partir dos quarenta e cinco, quando não se tem caso de câncer de próstata na família. Ou não se apresentam sintomas miccionais.

E ele, o garoto Toninho, saiu da sala consultório feliz da vida. Dizendo assim: “doutor Paulo. Foi a primeira vez que me mostro aos olhos de alguém. E como foi bom me mostrar aos seus”!

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