Sem ela, ou elas, o que seria de mim?

Antigo dito bem resume o que elas significam para nós. Não de hoje ao o prefiro o a. Ser masculino a mim não enseja nada. Pois sexo forte ser sinônimo de ser homem, pura ilusão de pensamento. Sabido e ressabido que elazinhas pensam muito mais que a gente. Nós, machões empedernidos em nossos poleiros frágeis, pensando que o galho de jabuticabeira enverga, mas não quebra, um dia a casa cai. Vamos ao chão com a força de um tufão, que aqui varreu a terra num redemoinho levado, levantando as saias das moçoilas casadoiras além do que deveria ser permitido, e deixou desguarnecidos tudo precariamente escondido debaixo do palmo de tecido que mal dava para fazer um pequeno guardanapinho de menos de dez centímetros de largo. E a bunda abundante ou mínima ficou de fora. Por causa do mesmo ventinho sacana.

Primeiro, na escala de importância, ou relevância aparece aquela que me fez ver a vida com as cores alegres ou tristes que compõem a sua aquarela de tintas.

Minha mãe Rute foi a responsável por estar aqui. Tendo meu pai como cúmplice. Que bom foi ter a eles conhecido! Caso me fosse permitido eleger o lar onde nasceria, não teria dúvidas. Seria esse mesmo. Talvez, se me fosse facultado escolher o final dos dias do meu saudoso pai, eles não teriam sido tão infelizes. E meu pai partiria sem deixar rastros de tamanho sofrimento, dado a pertinaz enfermidade que nele se aboletou, tempos atrás. Já a grande e primeira responsável pelos fugazes momentos de felicidade, não existe felicidade plena, indubitavelmente é minha mãe. O que temos são instantes apenas. Minúsculos grãos de areia fina numa praia enorme onde o mar se debruca nela, com suas ondas de espumas brancas, desaguando cantigas de roda, quando em minha infância perdida ainda vivia a pensar num Papai Noel com sua carruagem puxada por renas lindas oriundas da Lapônia.

Continuando meu périplo falando nas mulheres, o que seria da gente na ausência delas?

Na roça homem de lá costuma, nos tempos idos, deixar a mulher andar a um par de pernas atrás. O compadre Nicanor, um dia eu vi, andando, sob um sol escaldante, dez metros adiante da sua esposa companheira de tantos janeiros. Deveria, ao meu entender, ser exatamente ao revés. O mesmo bom homem Nicanor deixar sua esposa sob a proteção de uma enorme tapa-sol, ir ao seu lado, cuidadosamente esmerado, cuidando da sua cara inteira, pois dizer que mulher é mera cara metade, mais um logro nosso.

A segundo mulher em ordem de relevância, que junto a mim cuida não apenas das contas, tantas que são, é, segundo um dia deixei atestado, não de incapacidade minha, já que ainda sou capaz de vencer distâncias incomensuráveis, corri por mais de cinquenta quilômetros, a velocidade mínima e prazerosa, minha adorável parceira de quase quarenta anos de convívio, um dia foi chamada de – esteio onde amarro minha égua pampa.

Desculpem-me caso não apreciarem esta comparação. Entendam-na como um encômio, não um dito desatinado, tantos quantos fervilham em meu cérebro hiperativo.

Um dia um colega de profissão, durante uma consulta de rotina, creio, na época sentir uma dorzinha miúda na planta dos pês, coisiquinha devida a correr demais, ele mesmo afirmou: “Paulo Rodarte. Não sei o que seria de você sem a Rosa”. Nem eu, nem o poeta que mora em mim.

A ela, por ela, vivo e respiro. Certo de que conviver em perfeita harmonia é missão impossível. Estar em completa sintonia talvez apenas quando cai a chuva, depois de um período cruel de estiagem, e sobe aquele cheiro gostoso de terra molhada, o barro nos faz atolar nas estradas, antes poeirentas e insalubres.

Afinal são quase quarenta anos de convívio. Afável, carinhoso, zeloso da parceria longa, desde quase quando a serra que daqui se avista nasceu. Era um morrinho apenas, onde mais terra foi ajuntada, gerando o morro alto que daqui se vê.

Nem sequer imagino o que seria de mim sem as duas mulheres notáveis que Deus me fez presente.

Dona Rute foi há mais tempo. Que o mesmo bom Deus a tenha, na sua onipotência divina.

Já a outra pequena grande mulher tem o nome abreviado de Rosa. Muito embora tenha sido batizada por Rosemirian.

Sem as duas não sei o que seria de mim.

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