“O senhor ainda continua a escrever”?

Essa pergunta, feita agora há pouco, ao subir pelo elevador com uma filha, na companhia de sua mãe, respondi desta maneira: “se você me perguntasse se ainda continuo a viver, a sua pergunta daria no mesmo que. Sem escrever não vivo. Vegeto. Torno-me um graveto seco. Pronto a ir à fogueira. Ou encandecer a lareira. Nos dias de frio intenso”.

Ler deveria ser um hábito costumeiro. No entanto, no meu conceito, escrever considero não apenas um direito inalienável. Assim como um prazer inenarrável.

Bons tempos àqueles dos livros impressos. Dos jornais que eram lidos nos bancos de jardim ou praças floridas. Onde pássaros cantavam. Onde a gente se assentava sem medo de sermos afanados. Pra onde foram os velhos amigos? Aqueles mesmos, que com a gente combinava, a hora inexata de passear no rela do jardim, degustar com os olhos as mocinhas casadoiras, e, eleger entre todas aquelas pernas lisinhas, morenas ou de que cor seria, quem delas seria a nossa primeira namoradinha, uma delas, não sei se por sorte ou azar, seria a nossa esposa, dando-nos uma ninhada de filhotes, cada um cheirando a nossa ou a dela, as caras, ou, pior ainda, não ter parecença com nenhum de nós.

Ler, escrever, lançar livros, considero uma aventura de risco máximo.

Já o fiz em várias ocasiões. E nem contabilizo quantas foram.

A minha estante, por detrás de onde escrevo, cada vez mais se locupleta de livros, uma infinidade deles corre o risco de ser devorado pelas traças ou cupins.

Mas não me importa. O que conta, sim, é o prazer de acarinhar um livro novo, recém nascido na maternidade de uma gráfica qualquer.

Ser aplaudido, não de pé, quando posto uma crônica no Face, seja no Instagram, ou noutra rede social qualquer.

A moça, com a qual subi de elevador, junto a sua mãezinha querida, bem me conhecia.

Ela me chamou de doutor. Como estávamos somente nós três, ela ia ao andar de baixo, e eu no andar de cima, despedimo-nos cordialmente.

Foi quando pensei sobre escrever, ler, e, nos livros impressos e na internet.

E a tal, que ninguém fica de fora, acaba de matar, de enterrar, livros escritos.

Mesmo assim continuo a editar livros. Mesmo que a internet não a abandone.

E, lanço nesta crônica de agora a tarde, mais uma indagação: “quem de nós, num lugar ermo qualquer, sem eletricidade, sem internet, lógico, sem luz prepondera a escuridão, poderia ler algo escrito num computador, num tablet, num notebook qualquer, que seja num celular.  Já num livro editado, bem escrito ou manuscrito, qualquer um poderia, à sombra de uma árvore de rica copa, num gramado verdinho, entre flores de mil cores, a presença de um livro nunca seria demais”.

Quando aquela senhora, em companhia de sua mãezinha, ai que saudades da minha, me perguntou se eu ainda estava escrevendo, lembrando-se dos meus textos escritos na Tribuna de Lavras, ou noutro periódico qualquer, simplesmente retirei, da pasta que sempre me acompanha, recheada de livros meus, dois exemplares de minha lavra.

Foi a resposta que a ela dei.

 

 

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