Cortaram as asas do Chico Bento Aleluia

Pra quem ainda não sabia os famigerados cupins são derivados de quando os siriris perdem as asas e acabam se metamorfoseando naquele pozinho encontrado num móvel de madeira qualquer. Desde que esta mesma madeira não seja de qualidade como gente da roça.

Acostumada a acordar ao cantar do galo e ao cacarejar da sua esposa. Apesar de no galinheiro o chefe emplumado tenha a vida que sempre pedi aos céus. Podendo montar, com aquele jeitão desajeitado. Depois de uma bicada carinhosa na crista de uma franguinha ainda virginal. Que se submete aos seus caprichos de machão solitário dentro daquele espaço cercado por uma tela forte.

E as asas das galinhas e dos galos não lhes permite alçar voos mais altos. Como os de um falcão com seu olhar penetrante a procura de comida ao rés do chão.

E muitas vezes cortadas rente. Para impedir que tais emplumados, que botam ovos em qualquer espaço. Desde que sejam da raça caipira pira pora. Com seus ovinhos de clara branquinha e gema amarelinha. E como ovo cozido faz bem como proteína que é. Avoem para fora do galinheiro. Servindo de pasto aos assassinos de galinhas. Entre eles cito o bicho homem, os gambás, águias em seus voos rasantes.

Já esse personagem. Assaz conhecido e de reconhecida safadeza. Por não se contentar em ter uma mulher só. Já que a sua velha esposa já dobrou a serra há anos e anos atrás. Coleciona nos arquivos de seu celular números incontáveis de seus causos. Via de sempre mulheres que já foram formosas em sua juventude. Agora são vítimas inocentes de pelancas que despencam cintura abaixo. De estrias consequentes aos partos que sofreram. De pés de galinha que infelizmente proliferam cada vez mais nem menos no entorno de seus olhinhos mortiços

Chico já foi bom nesse metier. Agora carece de um ou dois comprimidinhos azulzinhos para conseguir aprumar aquilo que tem seu nome parecido a um jogo pela qual tenho a maior admiração. Eu já joguei muito tênis. No entanto, nos tempos de agora não mais pratico tênis. E sim examino pênis de outrem. Já que meu próprio tem apenas serventia para mijar.

Já Seu Chico, nada bento, é um emérito pulador de cerca. Mesmo que de arame farpado. Que, com enormes dificuldades quase sempre lhe rasga as calças. Uma vez atingiu-lhe os órgãos genitais. E deu um trabalhão danado ao meu colega de fardas para remendar tudo aquilo.

E Chico Bento não se sentia satisfeito com Dona Aurora. Com a qual mantinha um casamento que no ano próximo iria completar bodas de mais que ouro.

E ela não respondia aos seu desejo de macho ainda longe da andropausa. Quando ela desejava fazer amor ela virava pro lado e roncava.

E assim viviam às turras naquela casinha modesta. Eram brigas constantes e sem tréguas.

O casal passou a dormir em quartos separados. Nem mais se diziam bom dia ou tarde.

E já era tarde da noite quando Seu Chico deixou a casinha na surdina. Saiu pé ante pé. Com medo de Dona Aurora descobrir-lhe o destino.

E esse não era outro senão a casa de uma ex namorada de infância. Uma panela velha que ainda fazia comida muito boa.

 

O nome dela era Geruza. Ainda de peitos duros. Com uma garupa invejável. Que facilmente permitia a dois. Ou mais. De ir na sua garupa em pelo. Se fosse arreado um só conseguiria cavalgar.

Eis que a manhã despertou.  E Chico nada Bento não chegava em casa.

Dona Aurora se desesperou totalmente. Só não surtou pois tomava dez comprimidos de paroxetina e cinco de Rivotril. E chamou o 190. Por sorte o número não atendeu.

A hora do almoço já se avizinhava. O relógio Cuco saiu da caixinha pequenina. Onde o amor do Seu Chico e da Dona Aurora começou. E como nem tudo que reluz é doirado feneceu.

E o velho Chico reapareceu do nada. Mais tonto que peru na noite de Natal. Trocando os pés sem ter sucesso em fazer um quatro.

A dona Aurora já o esperava. Sem pregar as olheiras durante a noite inteira.

Com um rolo de fazer macarrão em punho.

Foi uma caceta só. Seu Chico foi a nocaute. Caiu no piso duro da cozinha desacordado.

Aqui do lado.  Na minha estante de várias serventias repousam todos os livros de minha lavra extensa. Contando com cuidado são quase vinte. E um pozinho amarelinho sempre dá o ar de sua desgraça. Alguns chamam aquilo de cupim ou caruncho.

No dia seguinte ao infausto acontecido Seu Chico Bento Aleluia baixou ao hospital. Teve traumatismo craniano e várias fraturas pelo corpo inteiro.

Ao receber alta sua velha dama. Que deixou a dama no armário. O recebeu em casa com um cartaz de boas-vindas, com o seguinte dizer: “tá vendo Chico Aleluia! Da próxima vez que ocê chegar nesse estado vou te transformar de aleluia a cupim. Ou caruncho. Como queira. Não iriei podar apenas suas asinhas de anjo falso. Cortarei seu piu piu a facão afiado. E quero ver vosmecê pular cerca de novo”.

A partir de então, quando chego ao meu consultório, não mais vejo aquele pozinho amarelo. Seria o fim dos cupins? Já que cortaram as asinhas do Seu Chico, a partir de aí vou ter mais cuidado com as minhas…

Aleluia. Aleluia. Mil vezes aleluia…

 

 

 

 

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