A vida é um eterno recomeço

Quem ainda não caiu. E a seguir se levantou.  Caiu de novo e novamente se ergueu.

Teve uma recaída de uma doença e ela simplesmente desapareceu.

Pra voltar e levá-lo às entranhas da terra. Para que você, tão vaidoso, recheado de orgulho bobo, sentindo-se a derradeira bolacha do pacote, de repente perceba que seu corpo hercúleo se transformou num amontoado de ossos, pelos, e nada mais do que isso.

E a gente sempre recomeça. Resistimos quase incólumes a procelas e tempestades. A uma chuvinha mansa. A ventos que assopram de nossa janela levando folhas na ventania.

E sobrevém os anos. A gente envelhece. Sem nos percebermos a barba, antes de um negrume intenso. Aparecem por lá os primeiros fiapos brancos. E ela tão bem cuidada é raspada. Para tentarmos dissimular a idade. E de nada adianta. As rugas desfilam altaneiras no entorno dos olhos.  A papada indica o tal regime para perder peso. Mas de nada adianta tamanho esforço. Pois até nos tempos de agora desconheço como retardar os ponteiros dos relógios e demovê-los de girar no sentido horário.

Não nos resta outra opção senão recomeçar tudo de novo.

Já que ao pó um dia retornamos. E de nada adianta pensar que a vida caminha em desabalada carreira adiante. Se é verdade verdadeira esse fato.

Podem me perguntar: “por que razão recomeçar? Se nada que a gente faz. Em vida é reconhecida a nossa capacidade de fazer o bem. Se por vezes o mal sobressai a ele. E as derrotas que a vida nos impinge são doídas. E mesmo que a dor seja real. Digo e não permito dizerem não a esta verdade- o sofrimento é opcional”.

Recomeço a escrever de novo. Já que esta crônica foi interrompida por um paciente recém adentrado a minha sala nesta hora quase madrugada. Com o sol entrando em saraivadas janela adentro. E tenho de abaixar as persianas de um verde desbotado para que a luminosidade não se interponha entre meu olhar atento e as teclas negras de letras brancas deste teclado que me atura a cada dia. Dando vazão a inspiração tamanha que me assalta a cada manhã.

A vida não restam dúvidas de que se trata de um eterno recomeço.

Do zero? Me indagam. Não importa.

Devemos sim olhar pra cima e ver o sol surgir de entre as nuvens cinzentas. Se o sol ainda não deixou seu leito por entre as estrelas que a ele permitamos um dedinho de descanso. Afinal ele merece. Por sempre brilhar e expor sua luz intensa. Desafiando-nos as meninas de nossos olhos. Mesmo que estas meninas já sejam mulheres vetustas. Velhas carcomidas e vedadas por cataratas que, mesmo removidas. Ainda nos maculam a visão. Já que no velho enxergar bem. Ouvir com acurácia. Caminhar desafiando as pedras que porventura se interpuserem em nosso caminho não seja tão fácil como se presume.

Mesmo assim recomeço sempre. A cada dia que nasce. A cada choro que oiço. A cada aperto de mão que não recuso. A cada gesto de carinho que retribuo. A cada aceno de mão que minha mão volta a acenar.

Recomeçar? Pra que?

Fica, ao final deste meu escrito de hoje. Penúltimo dia do mês de novembro. Prestes a chegar dia sete. Data natalícia minha.

Se me perguntarem um se. Se tudo tem valido a pena. Não titubeio e respondo: “vale sim.  Não irei fazer setenta e três anos. Retrocederei ao menos um. Em poucos anos mais chegarei à idade dos meus netinhos. E, se me inquirem como. Direi. Sonhar é preciso. Já que a vida para mim tem início, meio e não fim.

 

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