Fechado pra balanço

Balanço tanto pode ser uma gangorra onde balança o menino.

Feito de um par de cordas dependuradas num galho de árvore. Com uma tabuazinha servindo de assento. Brinquedo usado tanto num parque de diversão quanto improvisado por detrás da casa. Onde os pais empurram seu filho pensando em voltar a ser criança de novo. Pena que só em sonhos se torna factível.

Ou entende-se por balanço quando se fecha a conta de um empreendimento qualquer. E o pobre dono se vê em dificuldades. Atrapalhado com os maus resultados. E pede ajuda a sua esposa. Mulher de muitos predicados como a minha Rosa.

Quantas e quantas vezes. Ao passar caminhando pelas ruas de sua cidade. Que pode ser a minha ou qualquer outra. Você se deparou com uma loja de portas cerradas. Fechada por um motivo qualquer. Que seja para sempre ou até a semana que vem. E pensou consigo mesmo a razão de tantas portas fechadas em nosso país tido como tão progressista. E em verdade a verdade não é nada disso. Já que o nosso amado Brasil deveras está passando por uma crise sem precedentes. Estamos prestes a vislumbrar a entrada de outro presidente. O que nos reserva o futuro? A partir de janeiro do próximo ano?

Fica aqui a interrogação. Se alguém puder vaticinar o que está mais adiante que me responda de imediato. Se não deixem pra depois.

Diz Gabriel o pensador: “hoje estou fechado pra balanço. Se bater e ninguém atender. Volte mais tarde. Se chamar e ninguém atender não insista. Se gritar e o silêncio prosperar. Simplesmente desista. Amanhã quem sabe eu volte. Quem sabe eu lhe procure. Se não o fizer por que eu prolonguei o meu descanso.”

Ontem aconteceu mais um jogo da seleção brasileira. A partir do meio dia podia-se quase caminhar pelado pelas ruas semi vazias. Eu não o fiz por receio de me meterem numa cela escura. O Mundo das Sombras me intimida.

Depois de malhar na academia do LTC. E tomar uma ducha morna. Decidi-me, após o jogo do time da seleção canarinho. Dar uma caminhada em direção ao pronto atendimento de nossa cidade. Uma unidade de saúde pública cujo título é UPA.

Lá pelas quatro da tarde, no interregno do primeiro para o segundo tempo do jogo. Já que a nossa seleção já vencia por quatro a zero o time da Coreia do Sul. Ao olhar pro céu e ver que a chuva estava na iminência de despencar. Munido de um guarda-chuva pequeno. Pus-me pra fora do apartamento. Lá na UPA estava internada a pequena Manu. Uma meninazinha linda. Que vive na casa de Camargos. Companheirinha do meu netinho Gael. Infelizmente portadora de Drepanocitose. Um tipo de anemia congênita. Cujas hemácias são destruídas pelo próprio organismo devorador de sangue. Em cujas crises a pobre Manuzinha sente dores enormes e fica febril.

Elazinha estava preste a ser transferida da UPA para um nosocômio de nossa cidade. Pois onde ela ainda se encontra os recursos para um tratamento adequado são exíguos. E ela carece de ser encaminhada com premência. Caso contrário sua vidinha curta pode ser abreviada em anos.

Deixei meu apartamento sentindo as ruas já semi vazias. Lojas, casas, estabelecimentos quaisqueres de portas fechadas.

Fora alguns bares que abriram suas portas a fim de receberem torcedores e consumidores de petiscos díspares e bebedores de cerveja a vontade.

Passei por esta mesma rua. Deixei o supermercado Rex pelas costas.

Mais adiante. Antes de chegar a Otacílio Negrão. Dei um pit stop fugaz por barzinho feito de supetão garagem. Ali mais torcedores encamisados em amarelo tomavam chopes e esperavam assar carne de primeira numa churrasqueira improvisada no passeio.

Enfim a avenida de maior comércio em nossa cidade se mostrou com lojas fechadas pra balanço. Não seria propriamente balanço.  E sim fechadas para dar aos seus vendedores uma folga para assistir ao jogo.

E fui mais além. O céu acinzentava-se mais e mais. Pressentia que a chuva logo iria cair.

Quase na UPA a chuva despencou de vez. Foi a conta de ali entrar.

Apresentei-me a amável recepcionista como doutor Paulo Rodarte. Mascarado como Zorro sem seu cavalo branco e sentindo a ausência do amigo Tonto.

Enfim Manuzinha encontrei-a com a veia puncionada e arfante. Sua mãe. Nazaré assentada numa cadeira perto. Manu encontrava-se febril.

Quem me pôs a par do seu estado foi uma enfermeira que se apresentou como Graceli.

Gentil e bem informada ela me levou a dar uma volta pelas instalações repletas de pacientes da UPA. Fui levado a conhecer um dos médicos de plantão cujo pré nome é Lucas.

E do lado de fora a chuva caia em saraivadas. O céu cinzento indicava que iria continuar a chover.

Deixei a menina Manu entregue aos cuidados da mãe e uma tia.

E parti rumo a meu apartamento debaixo de uma tempestade.

Fechado pra balanço.

Ontem de tarde, a hora do jogo, podíamos andar nus pelas ruas da cidade. Lojas de portas fechadas hermeticamente. Alguns bares acolhendo frequentadores.

Somente unidades de saúde não podem fechar pra balanço. Devem permanecer, obrigatoriamente, de portas abertas.

Médicos, enfermeiros, atendentes, serviçais, devem ficar atentos sem poder sequer assistir aos jogos da nossa seleção.

E fica aqui uma indagação e um desabafo,

Quanto percebem médicos plantonistas. Enfermeiros. Gente obreira que não podem fechar as portas pra balanço.

Seria um quinto? Um décimo do que ganham os jogadores milionários da nossa seleção?

Bem menos. Eu sei…

 

 

 

 

 

 

 

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