Tião Madrugão e o piriri da brota

O dia estava apenas começando naquela madrugada de novembro.

O sol ainda acordava. Debaixo de um lençol de nuvens a claridade mal se via.

Tião, apelidado de Madrugão devido ao seu costume de acordar cedo, pôs-se de pé num salto.

Lá fora ainda estava escuro. Algumas estrelas ainda faiscavam.

A noite anterior chovera a encher baldes. Poças de água barrenta faziam atolar o incauto desavisado que porventura saísse de casa àquela hora temprana.

Mesmo assim Tião se preparou para mais um dia de trabalho. Tomou um cafezinho requentado que ainda fervia na trempe do fogão a lenha.

Tomou uma ducha morna. Ajeitou a cama do jeito que estava acostumado.

A seguir, antes das cinco da manhã, Tião deixou a casa modesta se dirigindo ao curral. Dada a pressa que o consumia acabou escorrendo num barro grudento. E caiu de cócoras naquela lama escura.

Mesmo assim não desanimou. A peleja na roça começava cedo. O céu, rabugento, mostrava que mais chuva iria cair no decorrer do dia. Chuva na roça tem suas vantagens. Desde que não seja ao desvario.

Duas dezenas de vacas baldeiras já o esperavam impacientes no curral. Do lado de dentro, num curralzinho improvisado, alguns bezerrinhos famintos berravam esfomeados.

Tião Madrugão começou a ordenha exatamente a hora prevista. O relógio que trazia na algibeira assinalava cinco e meia.

Foram duas horas inteiras de trabalho duro. Em menos de hora e meia o velho tanque de expansão estava cheio pelas beiradas. Exatamente na hora prevista desceu a ladeira o velho caminho leiteiro. Graças a Deus a ele pôde ir até o curral. Sem ser preciso levar a produção de dois dias ao alto do morro agudo.

Quando estava quase terminando a ordenha, eis que um imprevisto aconteceu. Aquela vaca, pela qual Tião não tinha grande simpatia, acabou por derramar por sobre a roupa do pobre Tião todo o produto dos seus intestinos. Tião ficou verdinho da silva. Embora não fosse esse seu sobrenome.

O infeliz Tião Madrugão teve de tomar um banho forçado. Afinal já estava acostumado aos percalços da roça. O que era uma caca de vaca para fazê-lo desanimar?

Antes da seis da tarde Tião já estava com a janta pronta. A pastaria verde reluzia a luz da lua.

Graças ao piriri da brota o leite aumentou. A pastaria verdejou. A vacada engordou. E a felicidade que vi estampada no rosto do Tião me fez pensar no quando a gente da roça ama a chuva. Conquanto a gente, da cidade, durante uma chuva qualquer mal sai à rua. Com medo de ficar molhado. Imagine se as moças de fino trato tivessem o costume de fazer tal e qual aquela vaca. Não seria um piriri com um cheiro tão adocicado. Ainda melhor que a boa gente da roça não se descabela por tal imprevisto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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