Como de sempre acordo cedo. Antes das cinco já me ponho de pé.
Ligo a televisão. Inteiro-me das notícias da manhã.
É um hábito que tenho comigo desde quando a idade me toma pelas horas. Quanto mais envelheço mais me preocupa o bem estar dos conterrâneos.
Pena que a televisão, a mídia, os meios de comunicação, apenas noticiam coisas que nos fazem envergonhar de nosso país.
Por mais que procure mudar de canal nada de alvissareiro a televisão me traz.
Violência, feminicidios, assalto, corrupção, prisões que duram pouco, confusão nos estádios de futebol, politiquices abjetas, e nada que me faça orgulhar do país onde nasci.
Acordo sempre em sobressalto. Por sorte ainda não fui vítima de nenhum assalto. Mas um dia, quem sabe?
Assalta-me a confusão que o país está submerso pelo pescoço. Assalta-me a insegurança que atravessamos.
Da mesma forma a pobreza acachapante por que o Brasil atravessa causa-me asco. Em cada esquina um sem teto esmola a luz do dia. Quantos em desabrigo dormem ao relento. Quantas crianças dormem na rua. Quantos drogados são vistos vendendo quinquilharias nas calçadas por onde passamos. À porta de bancos mais pedintes estendem-nos a mão.
Revendo as estatísticas a classe rica detém a maior parte da renda nacional. A linha divisória entre os mais bem aquinhoados e os miseráveis causa-nos estranheza.
Nunca a pobreza avançou tanto no cenário brasileiro.
Por culpa de quem? Indago. Seria por causa de quem nos governa? Ou cada um de nós compartilha a mesma culpa.
O fato, notório e duramente constatado, é que cada vez mais observamos a desigualdade social campear aos quatro cantos da nação brasileira. O desemprego avançar. A falta de perspectivas de crescimento recuar.
Pena. Causa-me enorme constrangimento andar pelas ruas e vislumbrar o status quo.
Sem nada poder fazer para alterar o que meus olhos veem.
Ontem, na parte da tarde, quando me dirigia a minha casa, assisti a um espetáculo que me fez pensar no mote do meu texto de hoje cedo.
Uma família inteira esmolava à porta de um banco. Parei um minutinho para tentar compreender o que se passava.
O pai, oriundo de outra região, trazia nos braços dois filhos menores. Eram três a esmolar nossa comiseração.
Depositei uma nota que trazia no bolso em sua mão. Era uma nota de pequena importância. Mal daria para que ele comprasse dois litros de leite e algum pãozinho para que os filhos tivessem a primeira alimentação daquele dia.
Deixei-os com a mão estendida. Tentando conseguir mais algum auxílio.
Uma vez em casa, pensando na vida boa que tenho vivido, acabei lucubrando sobre a situação de nosso país.
E ele vai de mal a pior. Até quando? Tomara por pouco tempo mais.