E que menina sonhadora era a tal Mariazinha.
Passava as noites em claro sonhando a cada dia.
Era tida diferente. Na escola todos a consideravam meio excêntrica.
Não se vestia tal e qual as colegas. Não usava uniforme. Nem levava uma mochila cheia de cadernos e livros como se usava. Distinta das demais Mariazinha fugia ao lugar comum. Sempre recatada, boa aluna, os professores sempre a tinham como exemplo de perfeição e dedicação aos estudos.
Oriunda de família rural. Elazinha nasceu no mato. Na data presente completou sete aninhos. Na sua casa não houve festa. Nem celebrações devido ao trabalho excessivo que os pais se encontravam no dia após dia. Eles não tinham tempo nem para abraçar a filhinha que naquela manhã de primavera celebrou seus sete aninhos.
Mas na escola as colegas fizeram questão de levar um bolo de aniversário. E uns docinhos de sua predileção.
Naquela manhã de quarta feira as aulas só tiveram começo depois daquela festinha improvisada. Na qual compareceram todos que na escola estudavam. Pois Mariazinha era muito estimada por todos. Dada a sua singeleza no trato com as pessoas e sua dedicação aos estudos desde que ali se matriculou.
Aquela menina sonhadora passava as noites olhando pro céu. De tanta intimidade com as estrelas sabia de cor e salteado o nome de cada uma delas. Não perdia de vista o firmamento. De tanto olhar pro alto, de tanto admirar o céu, uma noite a sua visão escureceu. Seus olhinhos claros passaram a não enxergar quase nada. Já na madrugada tudo que dantes lhe pareciam cores passaram a acinzentar-se de vez.
No dia seguinte os pais levaram Mariazinha a um médico de vistas. O diagnóstico foi sombrio. Em pouco tempo aquela meninazinha perderia a visão. Na região nada poderia ser feito. Eles teriam de procurar recurso na cidade grande. Ou quem sabe noutro país distante.
E como procurar um especialista numa cidade desconhecida? Se nem plano de saúde eles tinham? De recursos eram desprovidos. Dinheiro faltava para as menores necessidades.
Mas, graças a uma campanha feita na escola enfim Mariazinha foi levada a um oftalmologista de renome na capital do seu estado. Mais uma vez a conclusão foi taxativa. Aquela menina bem amada iria perder a visão num futuro bem próximo.
Era uma manhã de primavera. Céu azul, sol a brilhar cegando a quem olhasse pra cima.
Mariazinha, já perdendo a visão. Olhando pro céu tentando ver as estrelas, velhas companheiras. Mal conseguindo idenficar qual era uma e outra. Tendo a sua mãezinha ao seu lado. Numa tentativa inglória de enxergar um palmo adiante do seu nariz. Acabou por pedir a sua mãezinha, num esforço de ver o céu ao qual tanto admirava.
“Mãe! Gostaria tanto de conhecer o céu. De poder tocar as estrelas. É verdade que é preciso morrer para chegar lá no alto?
A sua mãe, enternecida com o desejo de sua filhota amada. A ela respondeu olhando pro céu. “Não minha querida. Basta viajar num balão. Ou de avião podes tocar as estrelas. Se você fechar seus olhinhos e sonhar em conhecer céu. Na noite seguinte você vai estar lá em cima, juntinho as suas estrelinhas. E nem precisa morrer para ver concretizado seu desejo.”
O dia amanheceu de uma beleza ensurdecedora. Mariazinha enfim conheceu bem de pertinho o céu. A sua visão se restabeleceu por um milagre de Deus. Que a acolheu junto a ele em orações.
Foi então que descobri que se pode conhecer o céu bem de pertinho. Pra isso basta sonhar. E iremos aterrissar junto aqueles que a gente ama. Que nos deixou anos antes de agora.
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